19 de maio de 2012

SUSTENTO


Nei Duclós

Acordei derretido por ti. O pouco que me dás é todo o meu sustento.

Amanhece de maneira difusa, sob o império das nuvens. Maio prepara junho e o ano entra em prontidão.  O frio úmido se instala no muro. Que não atinja o coração.

Minhas pernas pedem tua massagem, mas foste saudar os espíritos do campo. Sabes que estamos de passagem. Só eu aguardo na estação, iludido de eternidade.

Já compus a mesma canção, mas em outro tempo. Revisito o verbo para ver se é isso mesmo.  Tão intenso o sentimento que mesmo repetido, é inédito.

Fui te incomodar, apenas por capricho. Estavas ocupada alimentando os passarinhos. Espantei as asas com meus gritos. Queria que fosses só minha naquela manhã.

Mas isto não é um poema! disse o crítico. Poesia deixo para você, respondi. Eu me contento com a musa.

A claridade expressa o teu sorriso, quando acordas tentando me localizar entre a lã e o linho. Lá estou eu, o sortudo.

Me jogas o travesseiro porque preciso sair. Troco tua manha por um beijo. Quando voltar, quero te rever, arteira.

A bela reparte-se em muitos olhares. Mas num só se costura.

Queria ser o único a te querer. Mas a Lua não cabe numa só solidão.

Teu abandono não é crueldade, é destino. Nasci para te amar sem esperança.

O amor é um caderno lotado, escrito até nas margens. Guardado numa gaveta, junto com os retratos.

Fui incapaz de colocar em palavras o que pulava em mim quando te amei sem medida.

Não falaste mais comigo. Imaginei que tinhas viajado, mesmo te vendo todos os dias no meio daquelas pessoas.

O poema desceu das alturas para te socorrer, princesa. Ouviu teu gemido, ferida de amor não correspondido. Estancou a dor e te deu motivos para acordar mais cedo. Foi quando te vi, batida pelo vento Leste.

Lembra que acertei quando enfim fiz o melhor mergulho? Foi quando cheguei ao ponto, sereia.


RETORNO – Imagem desta edição:  Jennifer Aniston.