Nei Duclós
Estavam todos vivos até há pouco
o Tarso com seu jeito louco
o Scotch com a barba de Cuba
o Bi arregalando o olho
juntando laudas com Sergio de Souza
Estavam todos vivos até há pouco
o Múcio sempre nervoso
o Fortuna com cara de ogro
o Marcão Faerman e seus rebanhos
Markito e Gaguinho, que se foram cedo
Estavam todos vivos até há pouco
nas redações de telefone preto
nas teclas de duro alfabeto
nos papéis errando a cesta
nos gritos, gargalhadas, canetas
Estavam todos vivos e nem eram moços
tinham quilometragem em carne e osso
gastavam tudo pois não havia posse
apenas a fúria de escrever uns troços
que eram a vida inteira em papel impresso
Estavam todos vivos ao redor do fogo
que jamais morria por falta de histórias
havia algo maior acima dos armários
ou das madrugadas na ponta do lápis
talvez a eternidade sem se darem conta
Eu estava no meio, aprendendo o ofício
querendo ser útil, um irmão mais novo
um recém chegado ainda sem pouso
recebido como um igual e não era o caso
fui apenas o sujeito que ficou por último
Estive com eles até há pouco
meus irmãos de esquinas e encontros
títulos definitivos, páginas em branco
textos com precisão de linha de tiro
sons de baterias metralhadas ao longe
Por isso mostro hoje esse andar aéreo
como quem procura aquela dúzia de tontos
talvez eu esteja ainda lá, perto da meia noite
quando o mundo explode e não há mais tempo
Não tem por onde sair na hora do fechamento