5 de maio de 2012

REFLEXO DA SUPERLUA


Nei Duclós

Paixão é só reflexo da Lua. Quando ela some, assumes com tudo.

Ao teu lado a Lua faz bonito. Ri contigo, pedaço de firmamento.

Não te chamo de romântica, seria redundância. Te chamo pelo nome que a beleza inventa por descuido.

Que bom que existe uma noite assim, dedicada ao mistério. No maio que nos pega de jeito.

Não faria sentido se fosse só a Lua. És meu céu, doçura.

Quero você, que reparte seu sonho. Numa janela de trem, numa gôndola, quando a Lua assume o comando.

Olha o que parece a Lua, coitada, caindo, no horizonte sem fim, da poesia.

Lua nos puxa na difícil subida. Faz maré, faz maré, faz maré no mar, da nossa preguiça.

Olha, o que parece a Lua, é um navio na minha rua, rumo a gravuras antigas de um livro infantil e sujo.

Irás para além do céu, amante? Levarás contigo meus versos? Farás a ponte do poema com o cosmo profundo, lá onde o amor se refugia numa varanda?

Preciso ver a Lua a todo instante. Seguir seu passo radiante.

Superlua não é um assombro, é apenas a Cheia feita no capricho, dedicada ao seu ofício, ser a Lua simplesmente.

És como a Lua desta noite plena, jóia engastada no escuro, confronto de brilho num reino de sombra. Beijo teu contorno e acaricio teu coração redondo.

Fixa no seu ritmo ascendente, a Lua cheia inunda a noite de luz. Por um tempo, faz dueto com Vésper, que também está um espanto.

Superlua é síntese de luz adulta na noite quase fria de outono.

Escolho qualquer imagem, desde que seja tua. Faço a mesma viagem, Lua.

Te levo ao ápice junto com a Lua.Vais virar apenas suspiro e vento. Brilhante de fogo.


TORRE

Foi quando abandonei o ofício. Agora me dedico aos terrenos baldios. Mostro para turistas. Eles me pagam pelo sonho de ali construir uma torre à vista.

Você mexe com meu calor profundo, ela disse. Deixe como está, senão me queima.

Não me escreva mais, ela pediu. Foi quando fui para a Abissínia me engajar na guerra dos beduínos. Lá conquistei uma princesa de um reino só de areia.

Respire fundo. Estou com saudade das tuas ondas.

Lantejoulas grudadas na tua pele. Pistas de um carnaval antigo, fazem parte de ti. Foi quando te amassei, aos gritos.


RETORNO – Imagem desta edição: tirei daqui http://ueba.com.br/b/1590-a-superlua-de-2011/