Nei Duclós
Trafeguei na meia volta que tens por dentro. Onde permaneço.
Não devia gostar de ti. Mas é como uma cair da tarde,
emocionas sem querer.
Estava contigo até agora há pouco. Mas desconectamos.
O que tens para mim? Uma promessa de beijo? É um bom começo,
passageira.
Ficas no sofá, tentação. E eu sem poder te tocar, fingindo
que não te quero só para te agradar.
Deixaste de ser um enigma. Te pus na busca e cliquei na
primeira ocorrência.
De repente a noite fechou a cortina do crepúsculo. O pior é
que não veio com estrelas.
Em algum lugar remoto, há Lua. Ela esconde a poesia.
Uso imagens antigas. São como roupas que desencavamos no
início do frio. Lembra o coração quando existia.
Fica comigo. Acompanhe os minutos com gemidos.
Teu sumo não alimenta, encrenca.
Fiz só para ti. Escutas isso de todos. Mas só eu tenho
registro.
É fácil voltar. Difícil é permanecer.
Não me aqueço, não me esfrio, não começo, não termino. Junto
com você, indecisa, entre a aula e o recreio.
Nunca direi que cansei de alguma coisa. Estou sempre a mil,
graças a ti, incêndio.
Como num navio, em lados opostos do convés, me debruço ora a
Leste ora à Lua cheia. Balanço entre as curvas do teu segredo.
Seios quase escondidos, vestido preto. Cabelo vermelho, olho
de lince. Ninguém te escapa, reticências.
Você chegou há pouco, migrante. Leu meus sinais meio de
lado. Pousou em meu ombro doído. Sinto que nos daremos bem, bonita.
Falta pouco, apenas a distância de um beijo. Mas sei que é
um mar que me separa do teu desejo.
Venha na tarde fria dizer que és minha
Estraguei tudo. É da minha natureza. Tomara que você não se
arrependa.
RETORNO – Imagem desta edição: Marylin Monroe.