Nei Duclós
Ao seguir em linha reta, não avance como um homicida sobre
quem está fazendo alguma manobra, como estacionar, cruzar o caminho ou dobrar a
esquina.
Para evitar conflitos, aceite a negociação permanente no
trânsito e lembre-se que tudo passa enquanto um acidente fica para sempre empatando
sua vida.
Ao fazer uma gentileza, como dar vez a outro carro ou
pedestre, quem vem de trás pode querer te ultrapassar e colher quem usufrui do
seu gesto. Cuidado.
Não dê ré sem olhar a quem. Ré não é poder, é solicitação. É
preciso que permitam tua ré. Não se imponha pois pode matar quem você não vê.
Quando se apressam em roubar tua vaga, não faça retaliações,
como xingar ou estacionar trancando o intruso. Deixe passar. Há sempre um tiro
de tocaia.
Se por acaso a pessoa estiver na contra mão aposte que ela
precisa estar ali naquele segundo. Releve, não tente puni-la com teu espírito
legislador draconiano.
Não despreze carros mal cuidados ou sujos ou que não são do
ano. Pense que há gente dentro.
Ao sair ou entrar na sua garagem, não imponha seu carro
trancando a via. Não és o rei da cocada preta para fazer isso.
Chegar é ceder. Distribua para os outros a razão que sobra
em você.
Peça, jamais cobre. Agradeça, jamais faça cara de conheceu
papudo.
Se estiver pedestre ou ciclista, não se impregne de todas as
virtudes achando que dentro dos carros estão seu inimigos, por mais crimes de
trânsito existam.
Se vir uma bicicleta ou alguém andando a pé, não se
transforme num serial killer.
Guarde a macheza para quem te solicita entre quatro paredes.
Serve para se sintonizar com a delícia
de outro gênero, não com o crime.
RETORNO - Imagem
desta edição: cena de Playtime, de Jacques Tati.