Nei Duclós
Os espíritos moram conosco
Sentam à mesa para o café
passam como brisa pela sala
curtem uma janela aberta
passeiam no quintal
ficam horas nos cantos
e até mesmo deitam nas camas
Não são almas afins, de gente
próxima que se foi e fica rondando
São migrantes que acham um pouso
vieram não se sabe de onde
e não incomodam porque não são vistos
Já tentaram entrar em contato
mas não gostam de mesa branca
nem de médiuns de olho revirado
preferem se misturar às flores
enquanto não são chamados
pelas ordens do além
Se debruçam em teu ombro
quando fazes um poema
entram em pânico se te enfureces
e pegam carona nos passeios
Suas imagens então aparecem
nos vidros do carro, quase nítidas,
como se fossem adesivos
Mas são apenas espíritos
Já tiveram uma vida e a agora
exercem suas presenças no limbo
Gostam de orações porque a luz
das velas e das palavras
de alguma forma os acalmam
Vai ver eu é que sou a verdadeira
assombração e trafego imune
por esses corredores procurando
sabe-se lá o que. Talvez o anjo
que enfim me diga: estás pronto
para a casa definitiva junto a Deus
Então farei as malas de areia
e irei para a paisagem perene
onde medram cores raras
e talvez te encontre lá
amor que jamais tive
Toda enfeitada para nossas
núpcias na longa eternidade