6 de maio de 2012

MARCAS ANTIGAS



Nei Duclós


Folheei tua pele com cuidado. Tinhas marcas antigas de ausências.

Me tiraste da estante. Depois fui levado para o parque, onde depositas teu olhar distante em inumeráveis passeios de barco.

Onde pousas é o meu começo.

De dia, quando não há Lua, despes tua blusa, luminosa.

Reparti o fôlego conforme te aproximavas. Quando chegaste, eu já estava roxo.

Todo domingo é dia de balanço. Sobe e desce teu gostar grudento.

Mostre suas feridas, disse o veterano. Ela levou, falei em surdina.

Isso é coisa de poeta, falaram. E foram roubar terras.

Estás delirando, me disseram. E foram para a guerra.

Cada momento teu é uma história. Coleciono narrativas, minha letra de formas.

Apareceste no banho. Tudo virou água, o dia, teu corpo, o sonho.

A manhã começa cedo e a certa altura, cansa. É quando lembro de ti, esperança.

Nunca perdemos tempo. O tempo sempre nos acha.
Saciada, repousas. É quanto te atinjo ao meio.

Dividimos dúvidas, somamos agarros, diminuímos dores, multiplicamos espaços.

Na manhã seguinte nenhuma maquiagem sobrevive. É quando fazemos as pazes com tua alma, humana.

Teu artifício não me engana. Mas sabes disso. Usas para estimular a dança.

Estás de plantão, sem ser obsessiva. Olhas meio de lado, sedução.

O que chamam de defeito é pura matéria-prima. Gosto dos teus sinais, artista.

É moto contínuo, essa compulsão pelo laço que nos aguarda.

Tua presença real é a melhor fantasia. Dás de dez em qualquer alegoria.

Quando você diz que o coração sangra é apenas o prazer que se exalta diante da manhã cheia de manha.

Meu apoio escasso é como a última bóia em naufrágio: pode salvar, mas não escapa do xingamento.

Acordei nas altas horas. Não alcancei mais a Lua, senhora.
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Não é a solidão que nos aproxima e sim a chance de misturar as águas.

Precisava apenas desse aviso, de que vinhas, montada no dorso da Lua, bonita.

A Lua agora está no zênite, umbigo extremo da abóbada noturna, falso dia feito de luz fraca e fria.

Estavas aqui agora. Sumiste atrás da nuvem. Ainda vejo teu brilho, fazendo trança com a estrela.

Te escondes em imagens prontas. Mostre seus lábios, magnífica.


RETORNO – Imagem desta edição:   Veronica Lake.