Nei Duclós
O livro de
Renato Dalto “Luiz Martins Bastos, o criador símbolo da raça crioula” mostra
com detalhes o trabalho desenvolvido por um homem e sua linhagem, familiar e
profissional, a partir de seu reduto histórico e patrimonial, a Estância
Nazareth de Uruguaiana. Médico formado que exerceu a profissão por 25 anos,
decidiu no meio da sua jornada de mais de nove décadas, dedicar-se aos cavalos
típicos da sua região, que abrange não só a parte brasileira, mas também a da
Argentina e do Uruguai, além da participação do Chile, outro país protagonista
da narrativa.
Herdeiro de
uma família com fortes raízes portuguesas, Luiz Martins Bastos tornou-se o
patriarca que soube temperar a experiência com a ousadia, a prudência com a
curiosidade, a realidade com o sonho. O livro esmiúça essa trajetória com farto
material recolhido dos arquivos pessoais, dos depoimentos valiosos de colegas,
familiares e admiradores, da pesquisa na imprensa, entre outras fontes.
Praticamente abre a porteira de uma atividade que, apesar de muito conhecida superficialmente,
e celebrada pelo seu sucesso secular – são as estâncias que definiram o perfil
da economia e da geografia daquelas plagas - mantém encerrados alguns de seus
preciosos segredos.
Só quem é do
ramo sabe como se comporta um criador que começa com alguns espécimes
tradicionais do cavalo crioulo e aos poucos procura resolver problemas da
formação e estrutura, buscando sempre mais resistência, leveza, velocidade nos
campeões que se sucederam nas exposições e feiras de Esteio, Palermo etc. E não
contente com isso, como se diz na fronteira, deu o passo pioneiro e mais
arriscado, o de procurar nos cavalos chilenos o que faltava aos crioulos dos
redutos domésticos.
Longe de ser
apenas uma exaltação aos feitos de um bem sucedido criador, o livro tem essa
qualidade de expor o que fica oculto aos leigos, que assim pode incursionar nos
meandros de uma atividade onde entra o conhecimento, o estudo e a confiança de
que o rumo está certo e dará bons frutos.
Ao levantar
as raízes e origens da família, que faz parte de uma vasta rede de pioneiros e
empreendedores, o autor traz um pouco à luz o mundo submerso da formação da
fronteira. Pois é complexa a trama que desaguou num trabalho coletivo que
moldou o perfil da fronteira. Não se trata apenas de divisão de terras, mas de
trabalho exaustivo principalmente de gestão, quando não havia tanto
conhecimento sobre o assunto e foi preciso gerar um acervo de procedimentos a
partir do trato diário com terra, gente, animais, meio ambiente.
O Dr. Luiz
contou neste lançamento com o talento e a experiência do autor, um especialista
no assunto, como também da coordenação geral de Estela Facchin e do apoio da
Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos Crioulos. A capa, primorosa, é
de Esteban Dias Mathé e as páginas internas do livro de luxo, feito com rigor e
competência, conta com algumas ilustrações do artista Berega, além de fotos
antigas e contemporâneas, documentos, cartas etc.
O grande
incentivar do lançamento é Carlos Alberto Martins Bastos, um dos filhos do Dr.
Luiz, que é o Cabeto, meu amigo de infância, muito admirado por sua
inteligência, cultura e cavalheirismo.