Nei Duclós
Vá ao encontro, diga presente. Depois me conte, coração
esperançoso.
Não tem fim esta sintonia de corpos, onde nos salvamos.
Sou apenas instrumento do sonho. Sigo a pista do espanto.
Não se dobra e guarda o que foi feito para o voo. Pulo do
vale à montanha, amor ardente.
Agora não posso, amor distante. Estou imaginando teu abraço.
Houve interferência. Mas cheguei em ti, finalmente. Minha
bússola é o sentimento.
Não se despeça. Ainda estamos pendentes. Falta aquela
promessa, teu amor sem reservas.
Te levo para conhecer minha coleção de frases.
Abasteço o amor com fantasia. Pague com marcas de biquini.
Somos o melhor de nós mesmos.
O grude se desmancha e vemos a queda de uma constelação de
anjos, rumo a um abismo de espelhos. Cai o teto que sustenta a lua
transparente.
Perdi o sono em teu seio, bateia que filtra a luz do
universo. Recuperei o tesouro quando rodaste a espiral das tuas águas internas.
Beijas o que ainda tenho, essa esperança presa num fio de
sentimento. Perco o medo quando me abraças.
Parei junto com o comboio em pleno ermo. Descanso para a
viagem ainda no meio. Respiro tua lembrança, vestido de seda.
És meu descanso, meu incêndio. Vida que não abre mão do meu
toque.
Te quero sempre, corpo que me quebra. Não inventaram ainda
teu esquecimento.
Quis dizer A, já estou no Z. É a falta que me toma pela mão,
desde o primeiro momento. Amar é insubstituível, carrossel de apertos.
Deveria estar na cama, mas escrevo este bilhete. Um
estafeta, o beijo a distância, entrega com pressa. Cola em teu colo, princesa.
Nunca é demais dizer eu te amo. Mesmo que me esqueças. Leve
contigo essa declaração sem volta.
Me quero dentro de ti, leito de espantos.
Estou dando um tempo. Não deixe de me querer, flor da
janela.
DESENCONTRO
Quem você quer que lembre, esquece. E vice-versa.
Não insisto. Sou profissional do desisto. Melhor ficar livre
do que à mercê de um capricho.
Não deveria ter dito. Não deveria ter ido. Não deveria ter
esquecido. Não deveria ter calado. Deveria ter me concentrado no que imagino:
tu, luminosa água.
Não sou refeição de absurdos. Sou como tu, inventor de
futuros.
Não mexa no coração se não for para o sonho. Não tente matar
o que imagino.
Não use minhas palavras contra mim. Só falo na vida e seus
enigmas.
Já estou no outro lado do mar. Fique em seu ritmo.
SERVIÇO
Quem prova, sabe. Tem sal na água do amor, não açúcar.
Não se emocione tanto, não cola. Deixe que a palavra faça o
serviço.
Poesia não é nheco nheco. Palavra é destino, não bestagem.
Não interfira no poema. Ele pulsa antes de ti, confidente.
Deixe que bata na peito.
Achei que a poesia tinha ido embora contigo. Mas ela ficou,
tremendo. Esperou que eu a recolhesse da chuva. Molhada como tu, portento.
Não fuja de mim, clarão do poema. Sem ti, como conquistá-la?
Te publiquei na minha pele para que leias enquanto te
soletro
És uma página que eu acesso. Sou teu visitante perpétuo.
RETORNO – Imagem desta edição: Jennifer Aniston.