Nei Duclós
Brisa é vento mulher
Não sopra, como um vento qualquer
Assoma, em forma de flor
Frescor de noturno andar
Quando o verão está de matar
Estrelas forram seu vestido
Rosto de olhar comprido
Tira o mais medroso
Para dançar
Nei Duclós
Blog de Nei Duclós. Jornalismo. Poesia. Literatura. Televisão. Cinema. Crítica. Livros. Cultura. Política. Esportes. História.
Nei Duclós
Brisa é vento mulher
Não sopra, como um vento qualquer
Assoma, em forma de flor
Frescor de noturno andar
Quando o verão está de matar
Estrelas forram seu vestido
Rosto de olhar comprido
Tira o mais medroso
Para dançar
Nei Duclós
Nei Duclós
Não luto mais pelo que é seguro
Nem acredito em lendas do passado
Planto no presente o fruto maduro
O que procuro sem nenhum cuidado
Ingênuo, direis, isto está previsto
A falsa isenção dos derrotados
Fujo da determinação do que está escrito
Sujam meu nome e invadem minha casa
Pois passem ao largo, inconscientes pálidos Verdugos de uma operação datada
Tenho o tirocínio contra o certo errado
Cumpro o que ninguém decide em desacato
Não há heroísmo no cidadão à parte
O que denuncia a voragem dos esbirros
Anotações de punições falsas
Cultivo apenas uma convicção, a coragem
Faço da linguagem minha secreta arma
O poema que esqueces mas te põe em guarda
Nei Duclós
Nei Duclós
Tu me afasta
E não é por palavras ou gestos
Por fora chega a ser simpática
Mas é por tuas florestas, tuas feras
As mágicas que aprontas quieta
Teu olhar que se desvia
Toda vez que me aproximo
Não era preciso tanto esforço em ser avessa
Eu já entendi
Flor que me espedaça
Nei Duclós
Nei Duclós
Estendi a mão sem nenhum castigo
Porque essa é a vocação, sair do umbigo
Depois não me queixei quando fui mordido
Estava previsto, faz parte da confusao que compartilho
Conviver é não entender o sentido
Apenas deixar levar, barco a deriva
No fim dá no mesmo, vamos para o abismo
E nenhuma geração fará a coisa certa
Estamos na solidão e aprendemos
Que existe além de nós algo mais fundo
Quando batemos no chão aí acordamos
Nei Duclós
Nei Duclós
O alvo da tua fúria está fora da mira
Situa-se dentro de ti, ira sem rumo
Atinges um inimigo complicado
Teu gesto onde a razão se perde
Não precisa perdoar quem merece tua atenção
Basta ver onde a flecha se aloja
Tua mão de tacape em punho
A surrar-te achando que bates
Pergunte a suas cicatrizes
Se venceste ou não
Elas lhe dirão, servo do cárcere
Nei Duclós
Nei Duclós
A roupa não esconde
Antes mostra o que o corpo sonha
Nós dois no entardecer do Sena
Ou de qualquer outra pintura
Desde que haja nudez em porções de seda
Ou de algodão, o tecido assina
A obra que és tu, divina criatura
Nei Duclós
Nei Duclós
Não vou insistir, ganhaste o jogo
Nem vou mandar recado para ter esperança
Ou enviar mensagem por antigos endereços
Você me conhece, tenho meu preço
Que é do amor não aceitar conserto
O que estragou fica para semente
Que sirva de lição para o verbo amante
Gastei meu latim e não ocupei o trono
ao mesmo tempo abandonei o reino
Hoje é ruína, casca e caroço
E uns objetos atirados a esmo
Não preciso de ti, amor que não confesso
Nei Duclós
Nei Duclós
Agora que ninguém está vendo
A não ser você e seu olho grande
Quando até a lua se recusa a dizer aonde
meu olhar te encontra nua de um tudo
Pode confessar, formosa nomade
Que este encontro está escrito desde o início do tempo
Foi o Poema que nos deu
Esse rosto de amor sem nenhuma garantia
Apenas tu e eu, palavra que nunca se perdeu
Nei Duclós
Nei Duclós
Pelo tato você enxerga o corpo de quem ama
Mais do que a visão ou o cheiro
E percorre seus acidentes geográficos
O tórax, os ombros, a curva do pescoço
E a ligação entre a coxa e os ossos
OS joelhos que se articulam em pobres movimentos
A planície do dorso, a chuva dos cabelos
E as serpentes que molejam os braços
Tudo isso longe do fazer sexo
Apenas a investigação suprema
Do teu amor humano que não se engana a toa
E sabe que a mão chegará à essência
Mesmo que não queira
O veneno da atração sem nada que a retenha
Quando então você se atira, faisca no lombo
Lança quebradiça, vitrine de aço
És um painel preciso de diamantes foscos
Mulher natural sem retoques
Direto do Criador, vagalume, monstra
Nei Duclós
Nei Duclós
Corpo gasto, desafeto
Só a palavra sobrevive ao massacre
Como estou não mostro
Sou o monstro do que eu era
Mas imagino, quimera
Do desejo como oficina do amor
Dá-me tua mão, maneira
De manter-se vivo
De paixão
Nei Duclós
Nei Duclós
Lavou-te o mar, beldade urbana
cultivada na acidez do trânsito
o banho moldou-te o mármore
gotas na taça do champagne
Umbigo que prova o sal, vândala
vinda de fomes e jogo de ânsias
teu gesto endurecido cede à onda
e o corpo ganha ritmo no balanço
Estás pronta, como noiva do Oriente
que busca no olhar a face lânguida
e ondula os braços como serpentes
Desça da carruagem e descalça alcance
o que te dou de graça, neste recanto
de pedra e fendas que sem dó afundo
Nei Duclós
Nei Duclós
Procuras a palavra ainda viva
Que se refugia, vítima, na loja de consertos
Nenhuma medicina te mostra o esconderijo
Ela soluça, como um sapato no frio
Teu pé não cabe no calçado
Não alcança a ponta do casaco
Que cobre a fugitiva sem retoques
Tudo é um disfarce com nenhum sentido
Danças ao som da confusão
Palavra viva, quem me garante
Que tenho chance, prefiro o lance
De compor sem verso uma canção
Nei Duclós
Nei Duclós
É como se o tempo puxasse o freio de mão
A quarta vira terça
Ontem é depois de amanhã
A blasfêmia antes da palavra dada
A solução embutida na charada
A confissão que precede o crime
O amor que desiste sem provar o estímulo
A prisão que condena o tribunal
A flor do mal devorando a poesia
A vocação inútil , tudo já está feito
O principio como era no fim
È como se voltasses sem ter ido embora
Prazer que adivinha a hora
Cama no lugar do portão
Onde namoro o que só Deus decide
Para que a emoção dure
No tempo certo
Sem previsão pois tudo está perfeito
Nei Duclós
Nei Duclós
Você é paga para ser feliz
Sorrir é seu melhor trabalho
Fingir surpresa no flagrante
Usar roupa curta para que perguntem
Encostar-se no sofá fazendo pose
Com as pernas para o ar a sugerir escândalo
Depois vem para mim, fora do alcance
A pedir comida e só tenho espanto
Como podes ser de todos enquanto minha amante
Por que me escondes, poeira de estrelas?
Essa relação não vinga porque tens vergonha
Medo de perder teu belo sustento
Se souberem que és mulher de um sujeito tosco
Com a idade errada e aspecto de meliante
Fatalmente te jogariam longe
Pois teu segredo deve ser um charme
E não um pobre bicho que te espera à noite
Com uma refeição de lençol que arranha
E um bruto cobertor para me enrolar sem jeito
A me conversar que precisas do dinheiro
Mas que és minha, e morres se me mando
Nei Duclós
Nei Duclós
Você incendeia a criatura
Põe fogo onde era água
Depois não segura
Não tente apagar
Com tua geleira
És pedra e metal
Bizarro bombeiro
Fuja antes de tocar
Para evitar o problema
Pense no que vai fazer
Enquanto é tempo
Guarde o isqueiro
Até ter certeza
Ela é palha só no começo
Depois é madeira de lei
Queima para sempre
Nei DuclósFOGO
Você incendeia a criatura
Põe fogo onde era água
Depois não segura
Não tente apagar
Com tua geleira
És pedra e metal
Bizarro bombeiro
Fuja antes de tocar
Para evitar o problema
Pense no que vai fazer
Enquanto é tempo
Guarde o isqueiro
Até ter certeza
Ela é palha só no começo
Depois é madeira de lei
Queima para sempre
Nei Duclós
Nei Duclós
Tudo comigo fica para sempre
Bilhetes de amor, chapéus de feltro
O quintal que grudava no rio
Os acampamentos
Tudo permanece apesar do tempo
As perdas, estudos, amizades
Guardo bagagem para embarcar um dia
No navio onde serei capitão
Na direção do destino, o vento.
Nei Duclós
Nei Duclós
Não devo me aproximar pois estou exausto
Quando querem me ensinar como a vida funciona
Catequese de um verbo em queda livre
Como se eu fosse uma alma sem orientação
Nada tenho a aprender de tanta autoajuda
Filosofia ao portador em permanente exposição
Nasci antes de Deus quando Deus desistiu
Do modelo que saiu quando o barro se formou
Ele partiu para longe em outra direção
E soprou a alma imortal que perdi no Paraíso
Vim ao mundo sozinho, um mísero cão
E nego a caridade desse aprendizado
Do dessemelhante e sábio professor
Vá ler os filósofos que fizeram antes
Mais e melhor do que a vigarice atuante
Seja sacerdote das tuas certezas
Que eu sou de outra criação
A que sobreviveu escutando os anjos
Nei Duclós
Nei Duclós
Até comprei roupa nova para te conhecer
Banho de loja na véspera da emoção
Mas você não se impressionou, sonho de mulher
Procurou em meus olhos a essência do que sou
Mesmo mendigo eu faria melhor
Se soubesse o que vês com tua intima flor
Riste do meu esforço de aparecer
Como um príncipe de shopping e cabelo de jogador
Preferiste as palavras que enviei a teu dispor
Teclas de veludo e versos de amor
Ao me revelar ao vivo foi encantador
O modo como demonstraste tua decepção
Então eu atirei toda a roupa ao chão
E voei no aeroporto mais do que um avião
Nei Duclós
Nei Duclós
Posto nas redes o que ao vivo não me escutas
Foges de mim quando me aproximo
Porque achas já sabido o que eu não disse
Como se fosses sábia pitonisa egípcia
E eu oráculo de uma Creta de subúrbio
Então me fecho e guardo para o éter
O que deveria enriquecer na tua consulta
Pelo fato de existirmos no concreto
E não essa assombração de esconde esconde
Um beijo então
nem se discute
Por isso fantasio com as estrelas
Elas me amam só que ainda não sabem
Saberão quando eu conseguir chegar bem perto
A poesia é expediente perigoso
É a única que as sereias temem
As musas se protegem, saem correndo
Na hora em que chego com meu verso
Prometo que ainda sou inocente
Mas mulher não acredita e fica atenta
Volte, digo
Mas é inútil meu apelo
Nei Duclós