Nei Duclós
Não faço parte da foto de convívios.
Vivo no ermo, onde impera a Lua.
Esperei você acordar para me
convencer que há vida no planeta.
Não queres nada comigo. É recíproco.
Eu também não quero nada comigo.
Apagaste quando a noite desistiu da
lua. Te guardaste para um outro dia.
Mostras a língua tentando escapar da
ideia de que és apenas bela. Fechas os olhos para quem não enxerga
Tuas fotos não compõem uma persona. És
múltipla conforme incide a luz e a sombra
Ler é melhor domingo
Alguém bate na porta. Levo um susto
e vou ver. É o vento. Sente frio de si mesmo.
Toda vez que te leio, me desfolho.
Quando quiseres, estarei ausente. Prove do seu remédio.
Não te cumprimento com medo do adeus
que trazes engatilhado. Por isso te aceno depois que passas, para imaginar o
encontro que nunca acontece.
Prefiro não dizer. Assim fantasiamos
no silêncio o que a palavra pode desmanchar.
Me proibiste de te querer. Então
confidencio para os pássaros o que fica oculto. Eles entendem.
Passamos o tempo. Nossas identidades
viram memórias. Somos a soma de momentos, mas já sem densidade. Fica só a
vontade, a capacidade trêmula.
Amizade é teu escudo. Mal sabes que
é transparente.
Foste embora mas mentes que ainda
estás aqui.
Passei perto e puxei teu vestido. E
saí disparando, moleque cheio de manha.
Abaixe a arma. Foi uma piada
O país não é laico, é louco.
Sinta piedade. Saudade mata.
Compus uma sinfonia em tua
homenagem, mas ninguém sabe disso. Vista-se de gala, que te mostro a partitura.
Ela está escrita na memória dos nossos dias.
Pensei que era um novo encontro, era
uma despedida. Adeus, ela disse. E foi-se para o coração do deserto.
Já fiz o serviço, reaprendeste a
andar. Agora me dispensas, distraída.
Sou partido demais para me contentar
com tua plenitude. Só tenho porções, que buscam abrigo.
Gostas de outros lances, para eu
ficar sozinho. Prestas atenção no que não me diz respeito. Assim és livre,
coração de vidro.
Tanto verso para perder-te. Volto à
lavoura, de onde não deveria ter sumido. Evitarei as flores para que não te
atraiam. Focarei nas urzes, cactos e espinhos. Talvez disso brote algum alento.
Desculpe se me passei. Foi por
querer.
Tua falsa dúvida é um poço que me
esvazia. Peça um beijo, mas não finja
Te quero mas não digo. Te digo
quando quero.
Esqueça o que te digo. Fique apenas
com o que sinto.
Calor no outono, os rostos mudam
para o fogo.
Agora que toquei de leve tua mão
imagino tudo o que já fanttasiei contigo. Fiquei mais perto da tua pele, da voz
que me arrepia.
Te beijo escondido. Sentes o toque
na boca, mas confundes com um suspiro. É o vento que desloco em teu peito de
louça.
Quando a beleza acena, o mundo se
derrama. Seja qual for teu rosto, ele se espalha pela manhã me procurando.
Quando fica tarde demais, amanhece.
A flor vem depois do temporal.
Somos o que você imagina. Esse
teatro em peça íntima.
O sal das tuas águas vira mel de
colméia brava conforme vou avançando em camadas por tuas inúmeras janelas.