Nei Duclós
Para onde vão os poemas que postamos? Para teu coração, amor
verdadeiro. Eles se depositam em ti fazendo ninho.
Melhor não prestar atenção na tua imagem. Dá tremedeira.
Mas o amor é o tempo todo? perguntam. Não, sobram alguns
minutos para chorar no canto.
A semana ainda está no meio! gritam, em pânico. Querem que
eu espere o descanso para acumular o que sinto no lixo da segunda-feira?
És meu desassossego. Mesmo signo não combina. Migre para
Vênus, marciana.
Esqueço a forma do teu rosto antes da tormenta. Agora só
vejo teu olhar esbugalhado de tanta arrasadora gana.
Os poetas, primeiro, disse São Pedro. Está havendo um sarau
e só tem anjo ruim de verso.
Aposte que haverá mais de uma vez na mesma chance. Não que
haja performance. É que o amor não cede quando o visgo é denso.
Depois que tudo passar, a poesia será a criatura ainda viva
a brincar em calçadas antigas. Seu alarido já escuta. Beije a nuvem, minha
vida.
Estude o poema. Faça a lição de casa. Guarde o caderno sob o
travesseiro. E sonhe com as palavras que te tiram do sério.
Sinto muito, te amo.
Tudo é exagero. Nascer, viver, morrer. Por que então
implicam com um pobre verso? Só porque ele resolve dizer o que guardei num
tempo eterno?
Não estou com a razão: sou louco por ti.
Não valorizo o que ofereço. Acho até meio sem brilho. É
fosco, como diamante na mina antes do trato. Pode ser confundido com ouro
falso. Não tem como evitar o risco. Tire a guarda desses lábios.
A Crescente mostra a luz na janela para o deslumbre mas é na
sombra que urde a Lua cheia.
Só vejo uma metade da Lua. A outra brilha.
Harmonia é quando entoamos juntos. Melodia é quando te
canto. Solfejo é o som do anjo quando lembras do acalanto.
Não reconhecia mais ninguém. As palavras perderam o sentido.
Escorregou para o abismo, onde tudo nada significa.
É cedo. Por isso mesmo. Depois te perderás no dia. Aproveite
o beijo antes que suma na neblina.
Deite no meu verso que ele te mantém acesa, fogo brando em
direção ao sonho, de onde ilumina o peito ansioso pela manhã.
Entendo. Não queres repetir o sentimento. Melhor inaugurar
outro meio. Matar teu sonho, por exemplo.
Já podes voltar à tua rotina. Vou descansar um pouco. Amar é
pior do que a lavoura. Suamos na penumbra, sentimos frio no sol a pino.
RETORNO – Imagem desta edição: Charlize Theron.