Nei Duclós
Machucada de amor, estás de quarentena. Não por muito tempo,
sobrevivente.
Viajei sem deixar bilhete. Reviras minha gaveta. Não se
iluda. Meu adeus não está no poema.
Fazemos um par de náufragos na maré do tempo. Contamos com
nossos braços e teus lábios, no revezamento.
Quando não consigo te dizer, escrevo. É quando me lembro e
falo ao vivo, antes que me leias.
Dei-te amor, mas não compreendes. Achas que é perda de
tempo. Desperdicei, mas dou a volta. Disponho de infinito acervo.
Pergunto até quando terei mel antes que o coração seque.
Talvez eternamente. Talvez venha de ti, quando me vencerem.
Quanto te vejo, descubro que estou aqui a passeio. Praça de
perfumes, glória suprema.
Meu coração é marinheiro, canto de sereia.
O verso é teu aliado, crisálida.
Escutou meu coração. Falei: socorro.
Rosto espesso de tempo, leveza quase
de ausente, concentração de surpresas, expressão feita para dentro, que atinge
o olhar em cheio.
Um beijo sara o que não tem remédio.
Não insisto. Sou profissional do desisto. Melhor ficar livre
do que à mercê de um capricho.
Não te acho,agulha no palheiro. Sinto teu perfume e não me
concentro.
Depois não se queixe da voz que eu tenho. Ela vem de longe,
a cavaleiro de um tempo que não cede.
O que queres saber, eu tenho: amor no lado esquerdo, olhar
em frente e beijo engatilhado de plantão no horizonte.
De longe posso arrancar teus panos. Não se engane.
RETORNO – Imagem destaedição: uma diva clássica de Hollywood. Olivia de Havilland?