Nei Duclós
O verso mais feliz é aquele que te deslumbra.
Queres que eu sussurre o que o meu coração grita?
O rosto perfeito surge por descuido, quando Deus se debruça
sobre pincéis que se misturam. Ao voltar os olhos para a tela, lá está o
assombro providenciado pelo implicante Acaso.
Admita que me ama. Só depois conversamos.
Tens medo? Eu estou em pânico. Vamos deixar que o tempo se
encarregue de produzir remorso.
Voltamos sempre ao mesmo ponto. Nos batendo em frente ao
espelho. Ultrapassamos a fase do choro. Agora dói por consentimento.
Já estou no laço. O que impressiona é que não baixas a
guarda. Como se fosse me perder, tirana.
Não nos entendemos. Por isso não descambe. Não vá deixar à
mostra um milimetro de renda.
Isso cansa, disse a retirante. Prefiro ao vivo, senão é
poeira. Vejo encontros mudos, disse o saltimbanco. E cartas que são bálsamo no
deserto.
De manhã à noite, poema. Assim te alimento, dispersa. Te
amarro na corda do verso.
Há uma grossa camada sobre o nosso espanto. Nos debatemos e
só as aves escutam os gritos que emitimos por gosto.
As flores fizeram greve. O desamor não se deu conta.
Continuou andando no deserto dos canteiros.
Hora de dar um break. Pense em algo que te encante.
É um arrepio por dentro, que não dá bandeira. A não ser
quando torces a cabeça assim meio sem querer e vejo de longe que estás em ponto
de bala.
No que ela está pensando, a musa de belíssimos ombros?
RETORNO – Imagem desta edição: Laetitia Casta.