Nei Duclós
Fui para o alto mar. Levei tua imagem. Guardo no olhar,
gravada em histórias imaginadas.
O poço é só passagem. No fundo, ele se liga com a planície
iluminada da vida que veio de graça.
Mais não te digo, distraída. Portento que me balança e nem
se dá conta. Tente comigo no lugar de perder tempo com esse nulo desfile.
Tire da cabeça a idéia de extermínio e reimplante o que te
fez feliz antes da crise. Tens intacto, guardado, o tesouro dos teus melhores
anos.
Vontade de te dar colo em tarde de chuva, com direito a café
com bolo, e corpos como a lareira, que devagarinho pega fogo
Parede é o limite do beijo. É quando esperneia, querendo
ficar fazendo gestos de fuga.
Do tapete se vê o céu, enquanto ombro serve de travesseiro.
O céu é assim. Alguém sem ruído ao teu lado com sabor
eterno.
Ofereço o que não existe. Mas em algum reduto é preciso
cultivar o que resiste.
Os fatos se limitam, não invadem o quintal da tua renúncia:
abres mão do que aprontam em favor de um amor que desabrocha.
Fazer arte é o que vibra. O resto de apaga, como um sonho
triste.
Venha ao meu estúdio. Ofereço um brinde ao traço que te
define e que está na tela, meu coração em ponto de fervura.
Fugiste por um capricho. Agora peça para voltar, mas deixe
uma prenda: a confissão de que não vives longe de mim, peregrina
Refeita do susto, deusa marinha? Me abraça então, com todos
esses pingos.
Tenha comigo a flor que procuras. Cultivei pensando em
alguém como tu, ardido perfume.
Não pense que não atendo. Só estava me refazendo da briga.
Batendo na porta molhada de chuva, já fiz o café, pele de
espuma.
A próxima vez que nos pegarmos no canto, não vou deixar de
dizer o que queima. Chega de adiar esse profundo beijo.
Prazer, lábios de vento. Me alimentas com teu devaneio
Demoras,passageira. Acabo indo embora.
Quero você, dá para entender? Ô dificuldade...
RETORNO – Imagem desta edição: Isabelle Hupert.