Nei Duclós
Preciso de um verso que valha o que sinto: minha vontade sem
limite.
Se a fonte da tua beleza molhar meu beijo, tudo o que eu
disser será eterno.
O que digo gruda na pele do teu seio e fica ali, até que eu
prove o sabor que adquire.
Preciso de um verso que valha o que sinto: minha vontade sem
limite.
Preciso falar do que vejo daqui de cima, pequena: tua gula
de ser minha explodindo o vestido.
Agora que fizemos várias vezes, o que sobra para a noite
além do sonho? A Lua, o que dá no mesmo.
Paciência. O único som que te balança é a minha palavra.
Estou escolhendo, exigente.
Você dança comigo. Mãos emitem para o peito notas de músicas
perdidas.
Não precisamos mais falar, silenciosa. O luar fala por nós.
Agora vou baixar a bola. Chutar no canto, rasteiro.
Beijar-te a rede. Chega de fazer gol de cabeça.
Exagero é o que me dizes com um só grito.
Arrepio, poros do suspiro, encrespa a espinha até o bico, de
onde pinga a delícia.
Estamos quites. Você lê o poema, eu te recito.
Foi só me distrair e você bateu três vezes. Imediatamente
sumiu. Sonhei com teu paradeiro, esconde-esconde.
Parabéns a você, que todo ano remoça. Acenda as velas do
tempo que não passa. Faz de conta que o eterno é teu comparsa. Sonhe conosco
num banco de praça. Vai tocar a banda, fada.
Carne ou pêssego? De longe, toco em ti como um virtuose.
Estiveste ausente, passageira. Como vão os poemas? Rebentam
de manhã, brotos de futura primavera?
Há um frio por baixo do pano. Disfarçado em dia claro de
outono. É teu coração que me chama num serão ainda sem lareira.
Dia é quando você some. Noite é quando sentes fome.
Estou também ocupado. Passe no próximo século.
A estrela do poema é a palavra. Ou melhor, é tua Lua
interna, princesa.
Teu rosto é molde de deusas. O Olimpo está cheio de tuas
curvas.
Pena. Tens medo da vibração que te domina. Afastas o cálice
do delírio. Guardo o que te derruba, se queres assim.
RETORNO – Imagem desta edição: Zooey Deschanel.