Nei Duclós
Poeta o tempo inteiro, cada minuto de Lua, cada porção do
teu cheiro.
Diga que sim. É a única forma de haver poesia.
Visitei tua galeria. Sempre te achei uma pintura.
Melhor não mexer com as curvas. Elas se encrespam quando
você não alisa.
Deixei em meu lugar a poesia. É o melhor de mim, amiga.
Desististe, enfim. Cada barco segue seu rumo. Eu prefiro
assim. Consigo ser teu em minha fantasia.
Sentiste medo, é natural. Te arrependeste, neblina. Sou a
gota de chuva em tua língua.
Levaste os versos que guardei para o inverno. Agora sentirei
frio, sem verbo.
Procurei nos pássaros o assobio noturno. O que te atrai em
ruas encardidas.
Somos poucos, em rodízio. Amargamos a solidão do clima. Uma
tempestade de neve se aproxima. Vista minha pele, tímida.
Pode ir agora, já a dissolvi a banda. Vê se não desmorona,
meu encanto.
Repartimos momentos. Todos para ti, eu fico só te olhando.
Não te chamo de querida, não somos íntimos. Mas de musa, de
outra vida.
Não posso deixar de dizer, mesmo que queira. Temo esquecer o
que te beija.
Abordo tuas personagens. Mas quero tocar a intenção que faz
a arte.
Não esqueça. Hoje é dia de pegar o que desejas. Esse último
eu solto na beira.
Jogo na primeira base. Não para fazer pontos, mas porque ali
te abres.
Se a fonte da tua beleza molhar meu beijo, tudo o que eu
disser será eterno.
Não podes escapar, clássica. Sou o historiador da tua arte.
Invente o espaço onde me queiras. Que lá já estou, divina.
Teu rosto é molde de deusas. O Olimpo está cheio de tuas
curvas.
Habito o sonho em que estamos juntos. Não se afaste nem por
um minuto.
Pena não sermos as criaturas que imaginamos. Não outra
pessoa, mas contigo pendurada no meu ombro.
Te recolheste, me deixando na sombra. Mas tenho a memória da
tua imagem no espelho. Lá mora a luz, amante.
Saciada, repousas. É quanto te atinjo ao meio
RESSACA
Sobreviver foi o erro. Deveria estar preso no século eterno.
Mas cruzei o umbral e eis-me no ermo, a solidão do futuro.
Sobreviventes não merecem homenagens. Principalmente se
estiver pronto para o bote do poema.
Não me lembre, não sou poeta póstumo. Nasço amanhã, quando
estiveres a postos.
Ressaca da Lua. Balada do sábado foi super. Hoje ela está
anônima no céu. Pediu auxílio às nuvens.
RETORNO – Imagem desta edição: Marylin Monroe.