Nei Duclós
Venha dizer, maçã e gerânio. Sopro macio, que cruza o
oceano.
Domar a vontade de perder-me. Mergulhar na luz que te
desenha
Dormimos ao relento de um amor no começo. Complicado jogo
de cobertas. Acordamos em alto mar, mortos de espanto.
Não há segredo. E quando houver, deixe.
Fora do molde, longe do modelo. Apenas nós, criaturas
precárias. A única força é esse sentimento. E, claro, o extremo cuidado com
algum detalhe, para fisgar o beijo.
Te escondes, tentação de fogo. Me queimo, diante do teu corpo.
Falo cifrado para que não atentem, pitonisa de sonhos.
Estavas quieta, contente. Fui mexer contigo, travesso.
Lançaste uma flecha, veneno. Depois me queixo, em teu banho.
Lanças uma ponte, o namoro. Difícil, com minha vocação de
abismo.
Te inventei, porque te foste. Depois que me
desconstruíste. Arquiteta pelo avesso.
Floriste, por hábito. Oculto riso sob o rosto imóvel.
Ninguém viu a correnteza interna. Só eu, demiurgo do verbo.
Não sei mais o que dizer, disse ele. Permaneça no beijo,
disse ela.
RETORNO - Meus 65 anos.
AGRADECIMENTO
Tanto amor que nem
mais cabe nos limites do dia.
Extrapola, como
estrela cadente ao contrário.
Sai do fundo da terra
para o espaço
Incendeia-se em
permanente viagem
Tanto amor que vira
ciranda
na mecânica dos
astros
música das esferas
constelação de
abraços
Nei Duclós
( Para todos que me
felicitam neste 29 de outubro)