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3 de maio de 2012

PLANÍCIE


Nei Duclós

Fui para o alto mar. Levei tua imagem. Guardo no olhar, gravada em histórias imaginadas.

O poço é só passagem. No fundo, ele se liga com a planície iluminada da vida que veio de graça.

Mais não te digo, distraída. Portento que me balança e nem se dá conta. Tente comigo no lugar de perder tempo com esse nulo desfile.

Tire da cabeça a idéia de extermínio e reimplante o que te fez feliz antes da crise. Tens intacto, guardado, o tesouro dos teus melhores anos.

Vontade de te dar colo em tarde de chuva, com direito a café com bolo, e corpos como a lareira, que devagarinho pega fogo

Parede é o limite do beijo. É quando esperneia, querendo ficar fazendo gestos de fuga.

Do tapete se vê o céu, enquanto ombro serve de travesseiro.

O céu é assim. Alguém sem ruído ao teu lado com sabor eterno.

Ofereço o que não existe. Mas em algum reduto é preciso cultivar o que resiste.

Os fatos se limitam, não invadem o quintal da tua renúncia: abres mão do que aprontam em favor de um amor que desabrocha.

Fazer arte é o que vibra. O resto de apaga, como um sonho triste.

Venha ao meu estúdio. Ofereço um brinde ao traço que te define e que está na tela, meu coração em ponto de fervura.

Fugiste por um capricho. Agora peça para voltar, mas deixe uma prenda: a confissão de que não vives longe de mim, peregrina

Refeita do susto, deusa marinha? Me abraça então, com todos esses pingos.

Tenha comigo a flor que procuras. Cultivei pensando em alguém como tu, ardido perfume.

Não pense que não atendo. Só estava me refazendo da briga.

Batendo na porta molhada de chuva, já fiz o café, pele de espuma.

A próxima vez que nos pegarmos no canto, não vou deixar de dizer o que queima. Chega de adiar esse profundo beijo.

Prazer, lábios de vento. Me alimentas com teu devaneio

Demoras,passageira. Acabo indo embora.

Quero você, dá para entender? Ô dificuldade...


RETORNO – Imagem desta edição:  Isabelle Hupert.