17 de janeiro de 2012

A VOLTA DE JACK O MARUJO


Nei Duclós

O que achou do capitão que virou o barco de luxo? perguntou o Almirante. Deve ter deixado o leme com o papagaio, disse Jack o Marujo

Tinha mais de 4 mil pessoas a bordo, disse o Almirante. Por que pagam caro para se amontoar assim? Devem se sentir inseguras em terra firme, disse Jack o Marujo

Se fosse no alto mar seria uma tragédia maior, disse o Almirante. A navegação anda tão rasteira que qualquer banco de areia basta, disse Jack o Marujo

Parece que o capitão foi o primeiro a abandonar o navio, disse o Almirante. Não era capitão, disse Jack o Marujo. Era só um covarde

Falta qualidade em nossos homens do mar, disse o Almirante. Falta gente por toda parte, disse Jack o Marujo. Só temos insetos

O mar não precisa mais ser traiçoeiro para haver naufrágio, disse Jack o Marujo. Nem é preciso sereia para afogar marinheiro. É uma guerra perdida

Temos uma mocidade de valor entre os grumetes, disse o Imediato. Sim, mas a corrupção os espera com os seus arpões, disse Jack o Marujo

Já estive nesses cruzeiros de luxo, disse Jack o Marujo. São funerais de almas e vontades

Navio que serve para o lazer e não para a aventura da sobrevivência em alto mar não passa de um bordel, disse Jack o Marujo

O mar é majestoso, não uma paisagem de conforto, disse Jack o Marujo. Bravos morreram nele para não haver limites. É preciso respeitar os heróis

Mar virou lixo e é de novo lugar de pirataria. Velhos marinheiros estão sós, de coração apertado. Vosso capitão ainda vive,disse Jack Marujo

O que falta hoje no mar? perguntou a repórter. Fibra e coragem, disse Jack o Marujo. A frouxidão não doma os monstros dos sargaços

Vamos levantar âncora,disse o Imediato.Quem sabe o senhor se anima.Só se a Sereia marcar encontro comigo em ilhas de coral, disse Jack o Marujo


RETORNO – Imagem desta edição: naufrágio de cruzeiro de luxo em banco de areia.

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