25 de janeiro de 2012

FANTASIA


Nei Duclós

Tão bonita que até na fantasia não me aproximo.

Provo cada palavra como um renascimento. O verbo faz sentido quando há amor.

Nada foi em vão, minha alegria. Sou aquele que vês com tanta generosidade. Por isso cresço em ti, flor dos meus dias

O amor veio de mansinho e mordeu. Agora cura a ferida, distraída.

Quando damos as mãos, os pássaros fogem para bosques invisíveis. Lá, nos esperam com os bicos abertos nos ninhos.

Bem bonzinhos teus versos, disse a caridosa. Não, são maus, disse o peste.

Dei banho e saí com meus versos a passeio. São seus? perguntaram. São você escrito.

Ela roçou no meu ombro quando deitou de surpresa. Não tinha agendado ser feliz hoje.

Fui na loja providenciar alguns presentes. Quero aquele cheiro, pedi. Ah, e um pouco de querer-me. Talvez eu tenha novidades mais tarde

Quando me falta argumento, te releio.

O melhor de mim é ser eu mesmo, me dizes. Foi a única maneira de te encontrar, seresta.

Temos corações em sintonia fina, numa comunidade de arrulhos. Pombas nos representam emitindo sons para as nuvens.

Quando chegar a meia noite, saia disparando. É porque aparecerás na esquina manchado de paixão não correspondida e isso assusta todo mundo.

Bem bonzinhos teus versos, disse a caridosa. Não, são maus, disse o peste.

Assobie que eu danço no arame, equilibrista.

Sou de circo. Monto em cavalinho, domo feras, faço par com macacos, salto como palhaço. Só não subo no trapézio, teu reino absoluto, minha rainha.

Teu saiote rodopiou na primavera e me alcançou refugiado em neves de Kilimanjaro. Me trouxeste de trenó, sob as estrelas.

Ela me seduz num sopro de implicante inteligência,capa de veludo de sua beleza extrema, correnteza desencadeada pelo beijo.

Não falo em desejo, pode parecer apelação. Falo em tesão, mesmo.

Agora volto à solidão do tempo. Lá onde nuvens roxas desencadeiam algo que não vejo. Onde fica tua lembrança e a presença iminente do teu corpo


RETORNO – Imagem desta edição: Keira Knightley

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