17 de janeiro de 2012

COMO NÃO TE AMAR?


Nei Duclós

Como não te amar, se a doçura ressuscita em ti?
Como adiar esta paixão, se já perdi mais de uma vida?
Como evitar o amanhecer da noite aflita?
Como não falar em poesia, se me devolves o sentido?

Por que tornar ao limbo o que nos falta de delírio?

Chamam romantismo o que é apenas viço,
quando assomas feita seda e vinho,
núcleo de um poder que me redime.
E basta um copo de cristal sobre o linho
para que esqueçamos tudo.
Entrego esse amor ao seu destino.
Não vou interferir com minha sina.
Confio no abrigo da pele nua.

Decido te cercar, mesmo contra o vento.
Atraio o extremo amor que se aproxima.
Como não te amar, vésper e orquídea,
Apesar da escuridão e do vazio?

Colho o fruto que cresceu oculto
e sinto a sede que me torna intruso
na tua sombra vazada de perfume.

Impossível este amor que não recuso,
esta danação na sintonia,
estas asas borradas pelo abismo.


RETORNO – Imagem desta edição: Elizabeth Taylor.

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