14 de janeiro de 2012

BRASIL JOGADO NO LIXO


Nei Duclós

O Brasil foi jogado no lixo por meia dúzia de meliantes que exercem a ditadura maquiada de democracia, matando e comprando opinião.

A falta de escrúpulos é incensada como virtude. O critério para se avaliar o sucesso é a capacidade de sacanear. Sócios se entredevoram.

Punição draconiana atinge os pobres enquanto a impunidade privilegia grandes ladrões e matadores.Prisões e hospitais são estações do inferno.

A maledicência contamina as boas intenções da solidaridade. Projetos de salvação viram antros de corrupção. Bandidos posam de vestais.

Quadrilhas derrubam profissionais talentosos nos ambientes corporativos. Idiotas ficam décadas nos seus lugares e depois são homenageados.

O deserto emocional e intelectual leva multidões ao fundamentalismo histérico. Falsos líderes viram popstars.O berreiro substitui a teologia.

Nenhum debate vai adiante, pois é sempre a oportunidade de chamar o interlocutor de velho. Todos são jovens e tatuados.

A violência é a única linguagem coletiva identificável. Nos agredimos mutuamente em todas as instâncias. Adotamos a hostilidade como regra.

Os maiores imbecis não saem de frente das câmaras e suas falas ocupam todos os espaços. A mente do país está povoada de abobrinhas plantadas.

Alunos são levados à insurgência e à ignorância. Conhecimento foi reduzido à cópia. Na pesquisa, somos coadjuvantes de projetos estrangeiros

O esgoto é jogado no que resta dos rios. Pontes são construídas sem levar em conta a navegação. Hidrovias e ferrovias ficam no papel.

Consultores cobram os tubos para ajudar a demitir. Indústrias vão para o ralo. Monopólios se formam em todos os nichos. A miséria se espalha.

Pacientes morrem nas filas e corredores.Há um sistema votlado para a morte em massa.Sucídio coletivo no trânsito. Poluição em todas as águas.

Patrimônio cultural está na mão de corporações e da ind. financeira. Ou então está às traças, já que o dinheiro público tem outro objetivo.

Somos representados pela imobilidade e a desmoralização do talento. Vampiros da cultura e da política pontificam no Exterior em nosso nome.

O gênio é tratado como criminoso, enquanto o criminoso é tratado como gênio. Os grandes assassinos estão cercados de mordomias compradas.

Abandonamos ou vilipendiamos o acervo dos nossos grandes autores, que rolam no lixo das manipulações mesquinhas e no esquecimento.

A imbecilidade está no foco dos nossos espetáculos. Grandes artistas foram susbtituídos por energúmenos ágrafos. O imaginário despenca.

Destruímos nossos vestigios arqueológicos extraindo conchas de sambaquis e fazendo rally em ruinas preciosas.Grafitamos sinais ancestrais.

Vampirizamos nossos recursos do subsolo até a insânia.Transferimos uma cordilheira de ferro para o Japão.Enriquecemos meliantes dos minérios.

Plantamos cana até dentro das casas. Substituimos alimentos naturais por sementes envenenadas. Colocamos veneno no leite, hormônio na carne.

Inundaremos a floresta. Sem medir consequências, desviaremos o grande rio para jogá-lo no deserto. Rasgamos o solo do mar para verter óleo.

Crianças desaparecem, pais de familia são mortos na frente de casa, garotas são violentadas, marmanjos ficam impunes. Estamos numa ditadura.

Milhares abrem o traseiros de suas possantes carrocerias e tascam o mais estúpido ruído do mundo. E fazem aquela criminosa cara de paisagem.

Aí vem cada sujeito na frente das câmaras repetir que somos a sexta economia do mundo. Somos a primeira cloaca do universo, isso sim.

Sair para a rua é uma tortura. Ir ao cinema uma impossibilidade. Ficar em paz em lugar público uma temeridade. Frequentar a noite um stress.

Nenhum talento consegue emergir. Nada de valor é valorizado. Vagabundos de todos os gêneros e idades pontificam nos programas apelativos.

Burrice vocacionada, superficialidade carnívora, festança desenfreada, ruído insuportável, estupro, roubo e assassinato: eis nossa rotina.

Os mesmos políticos se revezam há décadas fazendo de tudo com o dinheiro público. A nação cai aos pedaços. Mas os anúncios são ricos.

Estamos abaixo da idiotia. Somos um amontoado, não um país.

Somos fantásticos. Escancaramos o país para toda sorte de predador. Oferecemos sexo para o mundo. Destruímos a floresta para gado e soja.

Em cada metro quadrado da nação tem um sistema de som transmitindo a mais torpe imitação de ruído a que chamam música.

Tiramos os poderes dos bairros entregues aos traficantes e milícias. No trânsito, nos caçamos mutuamente. Nas escolas, as crianças se matam.

Nossos governos assumem para depois darem explicações sobre corrupção.Sucateamos nossas indústrias. Mentimos estatísticas. Somos invejáveis.

Roubam milhões para protocolar estradas que caem na primeira chuva. Nas enchentes, liberam milhões que não chegam ao destino.

Nossas ações sociais são invejáveis. Juntamos vicados na calçada depois descemos o pau neles. Construímos favelas. Transmitimos baixarias.

Você ouve um barulho estranho. Abre o portão e lá está o vizinho tentando invadir tua garagem. É um direito dele. O de ser estúpido.

Megaputas pontificam sem parar. Overladrões se elegem por meio de um sistema político engessado. Cafagestes ficam de olho na tua casa.

Toda insubordinação legítima que pode ter consequências é assassinada no nascedouro, por meio do extermínio físico ou da calúnia.


RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.

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