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17 de janeiro de 2012
BILHETE
Nei Duclós
Atirei o bilhete e saí correndo. Fiquei siderado pela aventura. Meu coração dava pulos. Mas as palavras eram de tinta invisível, amor tímido
Agora não posso mais chorar o amor derramado. Só digo que todo o sentimento vem daquele momento com alguém que não me via, luz suprema dos meus olhos
Eu devia ter passado em sua janela trotando meu sonho antes que algum aventureiro dela lançasse mão
O destino me jogou no miolo da aventura, mas forcei a periferia, onde me instalei fantasiando sobre minha rápida passagem pelo núcleo do drama
Foi assim que a perdi, a mais bela conterrânea, tão bonita que até hoje nenhuma estrela brilha sem antes chorar de remorso
No solar onde meu coração habita, há janelas que dão para a paisagem dos meus treze anos.Lá está ela, a maravilhosa criatura, com seu perfil de dourada bruma
Eu a seguia até os confins da cidade. Mas ela não estava onde meus passos viam. Foi assim sempre, glória eterna da efêmera mocidade
Depois perdi sua pista. Minha covardia jogou uma pá de cal sobre o sentimento. Um dia ela reapareceu na mente, espuma de Afrodite, literatura
Era eu o tempo todo, disse ela sobre meus amores. Só existe uma vez e o resto é sonho
Quero-te de volta, imaginada. Não existíamos naquele tempo, como agora. A única realidade foi o amor jogado fora, que hoje pulsa como um cão vadio
Agora ando a esmo pelo mundo achando que posso ainda te encontrar. Mas deixei para trás o mágico instante. Ele terá poder de nos levar um dia ao mesmo café?
No carrossel do amor, vários vezes toco teu vestido, que fica na margem do giro. Sei que estarás lá na próxima volta. Até que um dia te agarro pela cintura
Já disse hoje que te amo? Disse, mas esqueci. Diz de novo
Escrevemos no mesmo livro, mas ele some no ar. Vivemos a mesma vida, mas ela nunca é idêntica. Temos o mesmo sonho e ele cai de maduro. Gêmea
O que me leva ao alto da torre onde te confinaram é a tua confiança. Voo para teus braços porque adquiro a fluidez inventada por tua ânsia de me ter
Não queria falar de outra coisa quando deveria estar pensando em ti. Mas prefiro me distrair de propósito para levar o susto do teu bote
RETORNO – Imagem desta edição: Hedi Lamarr.
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