Nei Duclós
Descobri o que te agrada. Poderás desmaiar por overdose.
Quisera te desmanchar na festa a dois em que és confeito de
doçura enquanto eu possuo a carícia que te transforma em poeira.
É divertida a poesia. É teu play-ground de loucura. Giras,
atingindo a nuvem.
Na consistência do bolo, meus dedos tocam teu rosto,
desmancham os caramelos, teu olhar é uma cereja.
Somos o que imaginamos. Por mais real que sejam os panos que
te definem, é liso o deslizar da mão em teu piso de mármore, com tufos de oásis
de água azul de quando em quando.
Meu alvo é o que desencadeias dentro dos fortins invadidos
de desejo.
Amor é o que dizemos em agradecimento depois da devastação
compartilhada em inacreditáveis momentos.
Ruas só de perfumes, cidades de sombras sob calores
intensos, céus de vertigem, praias de beijos. A nação verdadeira é a que
sentimos suspirando o sonho.
O corpo sem defesas, os ângulos mais lânguidos, a carregar
arquivos com palavras em desuso, como se fossem segredos veteranos tinindo de
novos.
O sentimento é quando o coração tem passaporte.
Sou feia, disse a Lua, e foi embora. Voltou mais tarde, como
Lua cheia.
Memorize o que digo para chamar o amor que tarda.
- Não quero mais, disse a gazela. Vamos dar um tempo.
- Agora é tarde, disse o urso. Te lambuzei com o último pote
de mel do meu acervo.
É só um final da tarde. Espécie de amor que enfim encontra
sentido.
Não posso repetir o verso que arrancou teu grito. Preciso
disfarçar em outros verbos para que a surpresa se repita.
Realidade é o que nos contraria.
RETORNO - Imagem desta edição: Winona Ryder.