20 de dezembro de 2012

PROMETEU



Nei Duclós

Não me corrija, ser torto é minha origem
não gauche, palavra com algum prestígio
mas troncho mesmo, fora dos limites
portanto, o natural é o que criticas

Não me compare ao cânone, ao currículo
nem à gramática que muda a toda hora
bebo no sagrado, Prometeu acorrentado
não seja o abutre que devora o fígado

Deixe estar, a poesia é como as folhas
que o outono derruba em tontas avenidas
lixo que se recolhe para adubar as flores

Prefiro ser a pedra na paisagem bruta
vista do navio onde ela sente que está nua
porque a enxergo, musa desapercebida


RETORNO – Imagem desta edição: cena de E La Nave Va, de Fellini.