Nei Duclós
Teu corpo expressa o paraíso. É o
código de origem da felicidade.
O dia é quando amanheces em mim,
serena de orvalho.
A noite é o eu profundo que dorme
com as estrelas.
Sinto que estás comigo, ruptura
viva. Pássara implicante que ainda descubro o ninho.
Tão próxima de mim eras perfeita e
eu não te conhecia. O mundo é assim, não faz sentido.
Tanta paixão e nenhum toque. É como
se não tivéssemos corpo. E no entanto sobro, mar, em tão escassa praia
É como num duelo ao entardecer. Mas
nem precisas atirar, basta dar alguns passos em minha direção para a minha
queda.
Te vejo e viro poema.
Teus ombros escorregam meus olhos,
que retomam a curva surfando sem fôlego.
Pássaros saem das tuas costas
fugindo de gaiola de chaves súbitas. Olhas para o voo com teu perfil de nuvem.
Meus poemas são tua coincidência. É
porque moro em ti, desavença.
Pode te ocupar com fingimentos. Faz
de conta que não me amas, lendo poemas de ponta cabeça.
Existe esperança para quem perdeu o
que não tinha fim?
És outra pessoa quando estás
ausente. Não te conheço. Quando voltas, peço que se apresente.
Não adianta me cobrar arrependimento.
É o que faço sempre.
Não confesso o que me passa. Evito
que saibas. Fujo para o deserto. Teu manto de beduína me acha no vento.
Te entregas ao sol como se eu
suportasse assistir o espetáculo do teu recado.
Apostaste na desordem. Deixaste na
areia o pano mais remoto.
Clima complicado. Te imaginei
sozinha com tuas águas pelo joelho.
Descansei de ti na sombra da
saudade.
Palavras de amor dependem do
momento. Nem sempre são de delicado trato. Pode ser algo louco, como te
arrebento. Sabemos que todo mundo sai inteiro. Mas o que vale é o dique que se
rompe.
Ia escrever sobre a guerra, mas vi
tua imagem rindo sob a blusa branca. És o único tiroteio que preciso.
O teu querer é que conta. Quero ser
corrente deste teu rio amante.
Conserte o parapeito de onde me vês
atento ao que tens de mais belo.
A Lua cheia acorda cada vez mais
tarde. É a soma das ressacas de inúmeras baladas. Karaokês com Júpiter na
madrugada
Quando cansares de não ser minha,
bata na janela, aquela que abre para o rio.
Não temos mais assunto. Vamos nos
aprofundar em ficar mudos. O manto da Lua se encarrega de promover acordos.
Passas por meu jardim acariciando as
flores. Transmites tua seiva de delírios.