Nei Duclós
Sou do tempo da Olivetti. Quando teclo, acho que o monitor
vai escorrer pelo trilho. E quase ponho a mão na tela para jogar a lauda fora.
Fiquei em dúvida sobre o lead. A cesta de lixo ficou cheia
de frames luminosos amassados.
Terminei o texto, dobrei os caracteres e gritei desce! para
o pessoal da oficina.
Fico bravo quando esqueço de colocar o carbono na tela para
produzir uma cópia da matéria.
Teclei, teclei e não apareceu nada no micro. Tinha esquecido
de trocar a fita.
Tento explicar para a meninada que o office boy deve levar
as ladas datilografadas urgente para a gráfica.Ficam falando que não precisa
mais
Atrás da lauda luminosa, escrevi um poema. Quando coloquei
no bolso, os versos transparentes entregaram o que eu fazia em pleno
expediente.
Cinco toques a primeira linha, sete a segunda e 11 a
terceira disse o diretor de Arte. Esse é o tamanho do título. Faz exato senão
estoura.
Entregou a matéria? disse o chefe de reportagem. Vá agora
fazer plantão de aeroporto. Leve caneta e lápis. Aí pode.
Quer carona? disse o motorista da expedição que ia com o
jornal para as bancas. Li toda tua matéria. Sujei as mãos de tinta.
RETORNO - Imagem desta edição: equipe da revista Brasil Século 21, da Editora Três,
em 1976. Estou na frente, com as mãos nos joelhos. Atrás de mim, à direita de
quem vê a foto, Mucio Borges da Fonseca. Na ponta esquerda, professor Rocha. No
miolo, o pessoal da Arte e da Expedição.