19 de dezembro de 2012

TEIMOSA TÊMPERA



Nei Duclós

Vens remando cada verso nas águas da tua vontade. De vez em quando a pressa levanta o vestido.

Jogo pesado porque és resistente. Não quebras fácil, teimosa têmpera.

Deixaste de frescura quando nasceste. Olho de fada noviça, plena de mistérios, cheia de força e carícia.

Na hora do perigo foste mais forte. És meu arrimo, pomba de silêncios.

Gastei todas as palavras mas elas resistem. Permanecem, como os verões na lembrança.

Não digo o verso se não me dás o que preciso: teu sorriso embalado em chamas.

Digo amor para não repetir tanto teu nome.

Mordi a Lua porque demoras. Mais um pouco eu devoro.

A velocidade do tempo diminui à medida em que te afastas, até atingir a imobilidade.

Achei que era Nova, era Crescente. De uma hora para outra.

Tua ausência cava tão fundo que desapareço.

Sinto falta de fruta, tua boca de pêssego

A Lua se retirou, deixou um rastro de estrelas. No encerado chão da noite és quem brilha mais intensa.

Teu bom dia foi um olhar que por acaso pousaste na tua perna, como a procurar a marca da passagem de uma pétala.

Qualquer coisa que se escreva é uma seleta de suores frios, noites intensas, tempos idos, esperanças. Nada é tão prosaico que mereça indiferença.

Não é para você que eu canto, mas para o despertar do teu desejo. Que ele me pertença pelo menos por um instante.

Troco o universo por um drible do teu olhar em minha direção.

Sei que prometeste não mais me escutar. Mas anjos me sopram, não há como fugir.

Não lemos para saber. Lemos para saber mais que os outros.

Amor é só o que eu tenho. Mas ele gira na roda do sonho.

É justo que você só pense no amor. É o que sobrevive a qualquer domingo.

Estava ligado na poesia quando faltou luz, o amor que tinha por ti.

Sonhar em estar contigo, delicia da vontade.

Você gosta disso, ela falou. Mexer com fogo. Depois se queixa. É da minha natureza, ele falou. Depois passa. Volto ao estado vegetal.

Teu querer é estranho, disse ela. Vais e voltas. Faço parte do sistema solar, ele falou.

Te recolhes cedo, criminosa, pondo de molho essas pernas, borrifando o ombro de perfume e pondo um véu que cobre teu olhar perdido de desejo.


RETORNO – Imagem desta edição: Sandra Bullock.