Nei Duclós
Vens remando cada verso nas águas da
tua vontade. De vez em quando a pressa levanta o vestido.
Jogo pesado porque és resistente.
Não quebras fácil, teimosa têmpera.
Deixaste de frescura quando
nasceste. Olho de fada noviça, plena de mistérios, cheia de força e carícia.
Na hora do perigo foste mais forte.
És meu arrimo, pomba de silêncios.
Gastei todas as palavras mas elas
resistem. Permanecem, como os verões na lembrança.
Não digo o verso se não me dás o que
preciso: teu sorriso embalado em chamas.
Digo amor para não repetir tanto teu
nome.
Mordi a Lua porque demoras. Mais um
pouco eu devoro.
A velocidade do tempo diminui à
medida em que te afastas, até atingir a imobilidade.
Achei que era Nova, era Crescente.
De uma hora para outra.
Tua ausência cava tão fundo que
desapareço.
Sinto falta de fruta, tua boca de
pêssego
A Lua se retirou, deixou um rastro
de estrelas. No encerado chão da noite és quem brilha mais intensa.
Teu bom dia foi um olhar que por
acaso pousaste na tua perna, como a procurar a marca da passagem de uma pétala.
Qualquer coisa que se escreva é uma
seleta de suores frios, noites intensas, tempos idos, esperanças. Nada é tão
prosaico que mereça indiferença.
Não é para você que eu canto, mas
para o despertar do teu desejo. Que ele me pertença pelo menos por um instante.
Troco o universo por um drible do
teu olhar em minha direção.
Sei que prometeste não mais me
escutar. Mas anjos me sopram, não há como fugir.
Não lemos para saber. Lemos para
saber mais que os outros.
Amor é só o que eu tenho. Mas ele
gira na roda do sonho.
É justo que você só pense no amor. É
o que sobrevive a qualquer domingo.
Estava ligado na poesia quando
faltou luz, o amor que tinha por ti.
Sonhar em estar contigo, delicia da
vontade.
Você gosta disso, ela falou. Mexer
com fogo. Depois se queixa. É da minha natureza, ele falou. Depois passa. Volto
ao estado vegetal.
Teu querer é estranho, disse ela.
Vais e voltas. Faço parte do sistema solar, ele falou.
Te recolhes cedo, criminosa, pondo
de molho essas pernas, borrifando o ombro de perfume e pondo um véu que cobre
teu olhar perdido de desejo.
RETORNO – Imagem desta edição: Sandra Bullock.