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18 de dezembro de 2011
VOA, CORAÇÃO DE ESPUMA
Nei Duclós
Deves perdoar quem te celebra. Principalmente quando fico de joelhos
Não te inflo para seres minha, mas para que flutues. Voa, coração de espuma, gerada no mar da poesia
Fui ver um filme, mas saí no meio da sessão, chutando lata. Os versos não me deixavam. Queria morar naquela cena em que me beijas
Tente fugir quando eu chegar com versos saindo pelos bolsos e o olhar à tua procura. Sou perigoso quando há lua. Mas desista, abismo
Entregue o que promete teu desejo disfarçado em gestos cotidianos. Ceda à força que me impões com tua doçura. Busque o sol no mundo escuro
Fomos cercados, mas não importa. Faça comigo a cama de um reparte. Diga, meu coração, como se transforma amor em arte
Fizemos uma reunião na beira do lago. O sol da manhã prateava as águas com escamas , nos cegando de luz. Te amo, disse ela, na ata
Emudeço diante do teu corpo e grito cale-se para quem assobia
O que vai fazer no Natal? disse ele antes de partir. Vou colocar uma meia na árvore para ganhar você de presente, disse ela
As casas vazias passam o fim do ano escutando vozes. São passos do outro mundo. Há uma festa atrás do espelho. Móveis estalam
Demais a solidão, amor. Parece não ter cura. É como ficar sem condução no front, quando todos já partiram e você fica à mercê do perigo que se aproxima
Sempre falta alguma coisa no fim do ano. O amor que não se consuma, a ausência de um aceno. De quebra, uma lembrança fazendo marcas no lombo
Sempre há esperança quando o ano finda. É o que diz tua caligrafia, amor distante
Feche a casa e aposte que o canteiro sobreviva até voltares em janeiro. Vou pular o muro para regar teu cheiro que deixaste sob a ramaria
Não se espante se eu deixar tudo como está e me recolha nas montanhas. Não vá bater na porta tardiamente. Estarei longe, escondido no sótão
Me abraça forte para evitar que eu me esvazie definitivamente. Preciso do teu alimento. Teu corpo doce arranca choro do meu sonho extinto
Seja quem for, faça o que fizer, serás sempre a água interior dando banho em nosso abrigo. Te sinto trêmula chegando, de qualquer ponto
Estava perdido entre sombras, pessoas que nada sentem. Vieste resgatar o que fomos, antes da queda. Voltamos, como os pássaros do verão
A poesia aos poucos vai me resgatando do vazio do dia. É como desembrulhar uma folha e dentro existir um rebento. Nosso amor pulsando
Conhecemos a fonte. Fica atrás do morro, perto do deserto. Lá uma forquilha descobre o veio. É o filete que sai da tua boca, sereia
No meu colo cantas uma fantasia. Estou nela. Leio nas estrelas, que agora pintam o céu de promessas
No meu colo cantas uma fantasia. Estou nela. Leio nas estrelas, que agora pintam o céu de promessas
Fui empurrado para a doçura como uma aventura rola no abismo. Fui recebido na última hora pelo molho generoso da tua língua
Falas comigo com a graça que te define. Sou bruto e me civilizas. És no fundo o que me faz a poesia
Fui devorar o mundo com minha força. Voltei quebrado. Me recebeste com o olhar em dúvida. Mas teu corpo sabia mais e acabamos juntos
Releve quando peso a mão no verbo. É só um tombo no infinito prazer de estar contigo. Vou ficar mudo um segundo, maravilha
RETORNO – Imagem desta edição: obra de Madrazo y Garreta
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