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12 de dezembro de 2011
SOU ÍNTIMO DE TI
Nei Duclós
Vieste junto com os guardados. Te descobri tardiamente, quando descarregava os jarros. Tinhas o aspecto de uma flor, de olhos assustados
Corri para evitar a solidão, mas era tarde demais. O ultimo barco partiu e estavas nele, levando teu lanche, embrulhado no meu poema em celofane
Sou íntimo de ti. Me tens na toalha, na estante. É o máximo que consigo me aproximar sendo um estranho
Bastou um dia longe para descobrirmos que nada ficou daquele primeiro encontro. Só a vontade de morrer de vez em quando
Não somos românticos. Admitimos isso naquela festa em que nos conhecemos. Por sermos tão idênticos, nunca mais nos desgrudamos
Você está piorando, disse o crítico. Já foi melhor, obrigado. Lembro, respondi. Quando fui ignorado
Precisa trabalhar mais esse material, me disse o superintendente. Amasse barro e não use borboletas. Custam caro e morrem no primeiro vento
Fizemos uma excursão na firma para comemorar o fim de ano. Estavas de cachecol lilás, no primeiro banco. Eras, à revelia, o meu presente
Estou pronta, disse a noiva. Antes, corte o meu cabelo. Foi uma promessa que fiz para Santo Antônio
Vim te conhecer para dizer adeus, disse ela. Não suportaria ver este amor virtual se desmanchar na minha frente. Prefiro voltar a ser um avatar
Construí uma ponte de conchas com as mãos, sem nenhuma noção técnica. Mas serviu para pisares nela, desmanchado meu suor em mil promessas
Estive fora. Não regressei antes da aurora. Estendeste teu lençol de sonhos para me receber. Vi de longe. Era uma espécie de fogueira
No povoado dizem que demorei demais. E que no fundo não me esperaste. É que não podem nos ver juntos, entender nosso amor absurdo
Viajei em junho, voltei em dezembro. Teceste uma camisa que coloquei agora. Estamos na varanda e o sol veio sentar-se para uma conversa
Fui buscar mantimentos. Ficaste de guarda. Os cachorros estava inquietos. Mas o caipora não teme guaipeca, teme o fogo dos teus olhos
Refizeste o caminho pelo corredor. Recusaste auxílio, estou orgulhoso de ti. Tateando as paredes, atingiste o esplendor: os lençóis que eu estendi
Perguntam o que faço neste ermo perdido. Porque não emigro, como todos. Alguém precisa guardar a natureza, digo. E ter um amor entre os jasmins
Não me leve daqui, destino. Custei a vir, quero ficar. Sou o sentinela do caminho. Se alguém invadir, vai ter comigo. Sinto que não estou sozinho
Não tem importância. Ninguém atenta para o amor, mesmo. Só não consigo descobrir para que serve esse talismã que me deste e não sai do meu peito
Você trocou de namoro. Achou que não precisava ouvir. Eu mantive o amor. Dá gosto ver teu erro. Conto os segundos para te dizer
RETORNO – Imagem desta edição: Catherine Deneuve
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