4 de dezembro de 2011

O AMOR É A ÚNICA LIBERDADE


Nei Duclós

Não desistirei de ti, repetente de ausência. Ganharei os tesouros que guardaste em silêncio. Já fiz fogo com resto de risos. Não me custa incendiar tuas nuvens

Voltei, andorinha. Foi só um momento, quando o desespero virou susto. Embarquei para sempre, mas o navio estacionou em teu seio

Não me chame de amigo. Estou providenciando um pedido. Onde pus o anel?

É só poesia: te amo. É só amor: te canto. É só canção: te chamo. É só vocação: te escolho. É só seleção: te molho

Resistentes, mantemos o encanto mesmo numa chuva de enxofre. Nosso guarda-chuva é o sonho. Olhamos um para o outro, relâmpagos

Escolhi as palavras na praia, no fim de uma tempestade. Estavam encolhidas, como criaturas tímidas. Bastou um carinho e elas pularam em mim

Ninguém atentou ara o poema disperso na calçada. Só eu vi, de longe, num reflexo súbito. Quando me aproximei, ele chorou

Ser poeta serve para interromper a cerimônia,gritar teu nome e impedir que aconteça.Mas depois você casa e eu me jogo na escadaria da igreja

Você falou pouco, mas o suficiente. Eu falei demais e me perdi. Agora te espero, tarde demais. Já me esperas há tempos, flor da quietude

És toda e sabes muito.Dizes o que preciso ouvir.Depois se recolhe,como um templo que medita e nos deixa na porta esperando.Choro não adianta

Já se acaba o dia e eu ainda não entreguei a cota de poesia para quem jamais me aguarda. Faço por hábito. Quero o amor, de qualquer jeito

Queres que eu compartilhe o que não sinto. Prefiro te perder para que o sentimento tenha chance de encontrar seu caminho. Talvez contigo

Não é mais permitido forçar o comando. É preciso que se deixe o coração fazer seu serviço. Voa para ela de uma vez, meu sentimento!

O amor é a única liberdade. Por isso nos submete, com a força majestosa da sua alegria

Não tente entender meus desígnios. Estive no exílio e agora voltei para compor aquela canção, visitando cada mesa posta pelo amor perdido

Quando você pedir para parar, eu obedeço. Mas só se abrires a janela para apanhar a chuva que me encharca desde a madrugada

A expressão foi fatal, mas o que me emocionou foi a fonte daquele gesto, que me transformou num miserável. Desde então, reinas, dona de mim


RERORNO - Imagem desta edição: obra de Tiziano

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