1 de dezembro de 2011

MILAGRE


Nei Duclós


Tiro do amor porque o amor me dá

Não te cumprimento. Apenas deixo o que poderia ser um bilhete, mas é a solicitação por escrito de um milagre.

Ela não respondeu. Preferiu escrever no muro o poema de alguém. Palavras sopradas pelo mesmo anjo para dois corações desencontrados.

Tu, poço de poesia, onde jogo o coração, balde vazio que se impregna de tua arte. Tu, fonte tranquila, na expectativa de um encontro

Amor, te deixo. Foi em vão expressar meu encantamento. Volto ao caminho dos pássaros, onde ouvi teu canto, jamais repetido. Ele está mudo

Você não me responde, fico a esmo. Tenho uma agenda toda em branco por tua causa. Marque um encontro. No próximo milênio, que seja

Está gasto o papel da mesa. O garçom já não me atende.Preenchi os claros com poemas.Só falta você sair pela janela,carregada por meus versos

Agora chega! Te pagamos para isto?! disse o contratador, amassando sonetos. Onde estão os reclames para a venda? Solte os poemas, disse, senão morre

Ela me testou. Se eu fosse reprovado, você morreria? perguntei. Ela disse que sim

Teu perfil está gasto de tanto que eu clico tentando arrancar uma resposta. Mas tua foto continua muda, sorrindo, da praia onde nos conhecemos

Esse tuit é meu, disse ele na hora da separação. Foi quando eu me apaixonei por você, disse ela na partilha dos bens. É minha prova do crime

Só conheço a cor do seu cabelo. O rosto estava encoberto. Se ela mudar um fio que seja, jamais a terei visto. Nem saberei o que fazer com este poema

Imagino saber teu segredo, mas como não dás bandeira, me compenetro. No fundo não conheço. Apenas vejo o que ficará oculto para sempre



RETORNO - Imagem desta edição: obra de Julius Leblanc Stewart

Nenhum comentário:

Postar um comentário