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15 de dezembro de 2011
PISANDO AS NUVENS
Nei Duclós
Você me ensinou a voar. Agora me diz onde pouso
Passei dez vezes em frente à tua janela. Fica no milésimo andar. Ando a pé, pisando as nuvens
O amor saiu de moda. Nesta estação o quente é ser descolado, disseram. Está certo, admiti. Descolei de mim quando ela me derreteu
Não tem mais o que fazer? gritaram para o cachorro de rua. Vai latir teus versos em outro lugar! Estou esperando minha dona, a Lua cheia, disse o cão
Cliquei três vezes para ver teu rosto mais de perto. Foi quando levei um beijo
Visitei teu espaço hoje. Era o mesmo de ontem,a estas horas. Estava imóvel. O amor também não mudou nada
Querem te enquadrar num tipo, mas sei que tua forma extrapola. És névoa e arco-íris. E pintas o rosto, teus lagos, no crepúsculo
Estás apaixonado? ela perguntou. Não, disse ele, estou morto. É só um sonho que eu tive
Diga que imaginou uma dança em homenagem ao poema. Depois me mostre, quando todos forem embora
Queres ser minha por delicadeza. Mas eu sei que essa é a forma mais exagerada de amor, pois o passo prudente é quem dá as cartas
Quem te ensinou tanta coisa? perguntou o duende, assombrado. Estava tudo preso numa árvore, disse. Eu apenas colhi, espantando o beija-flor
Jogaste em terreno inculto tantas sementes, me disse o patriarca. Deverias ter revolvido a terra e tirado as ervas daninhas. Plantei flor selvagem, disse
Estamos perto,disse ela. É logo depois daquela pedra. Quando chegamos lá, a neblina tomava conta de tudo. Melhor assim, falei. És meu mirante
O tempo que acumulas no silêncio é o fermento do meu sonho. Imagino tudo se não me dizes nada
Prefiro assim, fixo no cais sem ter nada, do que me iludir à mercê da maré que me leva para longe da tua praia
Antes que o dia me arrebate, durmo ao lado do teu gesto ausente, lá onde me alimento, deusa que invento
Agora é esperar que o dia traga a surpresa.Meu barco passa pelo lugar onde te vi e de lá aguardo o teu aceno, passageira
Comprei passagem para lugar incerto. Desci no aeroporto da esperança. Peguei um táxi de surpresas. Aportei no hotel onde me chamas
Não quero ficar disponível para a dor. Nem guardado para depois.Nem amarrado ao desamor. Nem perdido no além mar.Quero você, meu bem querer
Não precisa entender, passe ao largo. Note o que tenho de fato. O coração solto como o pó do quarto iluminado pelo teu despertar
Falo de outra pessoa. A que ainda não existe. Sou assim, conto com vôos perdidos. Tenho a mão lotada de futuros encontros
Já falei demais, perdi os sentidos. Deliro enquanto te vestes. Vais embora depois de dizer bom dia. Adeus, amor da minha vida. Até a noite
RETORNO – Imagem desta edição: Nas alturas, obra de Charles Courtney Curran
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