Nei Duclós
Tentação é o amor que não planeja o
remorso.
Estou inteiro aos pés do que não
conseguimos evitar. Me beije de olhos abertos.
Achas bobagem, desconfiada. Mas
basta eu virar as costas para espiares meu caderno.
Joguei pesado. Providenciei uns
versos cheios de água, para que te banhes com teu perfume de fada.
Rede social é buraco sem fundo.
Lanço um poema e ele viaja contigo.
Vou dizer como funciona: o sol a
pino faz vibrar o sino que tens quando mergulho.
Não pegue tudo para si. Abra mão das
sementes.
Não te observo à traição, mas de
frente. Quero que saibas o tamanho da encrenca.
Não deixas, mas para mim dá no
mesmo. Não tenho pressa, açucena.
O sol, já sabes, não fica no meio do
caminho. Ele vai fundo inaugurando o dia e mergulhando depois no escuro poço de
desejos que tens entre as estrelas.
Cada uma é uma flor em seu próprio
bouquet de amor.
Sou predador, top da cadeia
alimentar. Recolha as iscas e preste atenção na despensa.
A mais bonita é a que eu escolho, à
revelia do que diz o cânone. Beldade é a que te beija todo o tempo com o teu
consentimento.
Será que virá de novo? Ou foi só um
pico qualquer de vontade, que passou lotada?
Pronto, passou o dia, mormacento,
interminável. Agora abra a gaveta da tua noite.
Mataste a tua saudade e foste
embora. A minha sobreviveu.
Agora estás em mim. Não abandone o
que nos fez amantes.
Minha melhor frase é quando te
canto, mesmo que não haja verso.
És a surpresa que me reinventa, meu
recomeço. Não te agradeço com medo que vás embora.
Toda pronta para a balada. Me
arrancas uma espécie de rosnado.
Um ângulo de todos os graus separou
por instantes o que juntavas andando. Foi suficiente para entrar voando.
Pele de pêssego, consistência de
alabastro, roças a umidade no fio da minha garra.
Fazes parte de mim depois de tão
longo tempo. Encaixe no colo é uma extensão de corpos.
Tão feminina e distante que tua
volta é meu maior presente.
Você volta para matar a saudade que
me mata de vontade.
Cheia é quando a Crescente capricha.
Jogas pesado, flor do cerrado. Ao te
colher finges que desmaias.
Assim não vale, carangueja. Recuas
em todos os beijos.
Amor quando se cala está consultando
as cartas.
O mais doce do entardecer é que te
entregas como nunca.
Sumo no ar quando me calo. Deixo a
marca, o verso apaixonado
Amor é programa de índio. Cupido usa
arco e flecha.
Precisava me ocupar de outras
coisas, mas não permites, desperdício de formas.
Finges ser minha quando me afasto,
para negar tudo quando retorno.
Visitei o quarto de badulaques. Lá
estavas, jóia de marfim, lembrança de uma tarde, pegando poeira.
Pode espernear. Estás na armadilha.
Só sai daqui perdida.
Fiquei de ressaca de tanto te dizer.
Agora vou medir as palavras com teus dedos de seda.
RETORNO - Imagem desta edição: Marilyn Monroe.