Nei Duclós
Roupas sem uso ficarão de herança
não compro novas desde a crise de 73
casaco de napa que trouxe de Libres
falso veludo que vesti em entrevistas
Calças que não entram, cinto no encosto
coleção inviável pela surra do tempo
sapatos no desvio, tênis sem serventia
chapéu amontoado em corredor e sótão
Duas gravatas sobreviventes, memórias
de disfarces, ternos agora sem botões
e camisas dobradas para eventos perdidos
Partirei de pés descalços e um tecido leve
desses que o lago de Caronte lava fácil
Para onde vou não há verão ou inverno
RETORNO – Imagem desta edição: obra de Bispo do Rosário.