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28 de novembro de 2012

OLHOS ABERTOS



Nei Duclós

Tentação é o amor que não planeja o remorso.

Estou inteiro aos pés do que não conseguimos evitar. Me beije de olhos abertos.

Achas bobagem, desconfiada. Mas basta eu virar as costas para espiares meu caderno.

Joguei pesado. Providenciei uns versos cheios de água, para que te banhes com teu perfume de fada.

Rede social é buraco sem fundo. Lanço um poema e ele viaja contigo.

Vou dizer como funciona: o sol a pino faz vibrar o sino que tens quando mergulho.

Não pegue tudo para si. Abra mão das sementes.

Não te observo à traição, mas de frente. Quero que saibas o tamanho da encrenca.

Não deixas, mas para mim dá no mesmo. Não tenho pressa, açucena.

O sol, já sabes, não fica no meio do caminho. Ele vai fundo inaugurando o dia e mergulhando depois no escuro poço de desejos que tens entre as estrelas.

Cada uma é uma flor em seu próprio bouquet de amor.

Sou predador, top da cadeia alimentar. Recolha as iscas e preste atenção na despensa.

A mais bonita é a que eu escolho, à revelia do que diz o cânone. Beldade é a que te beija todo o tempo com o teu consentimento.

Será que virá de novo? Ou foi só um pico qualquer de vontade, que passou lotada?

Pronto, passou o dia, mormacento, interminável. Agora abra a gaveta da tua noite.

Mataste a tua saudade e foste embora. A minha sobreviveu.

Agora estás em mim. Não abandone o que nos fez amantes.

Minha melhor frase é quando te canto, mesmo que não haja verso.

És a surpresa que me reinventa, meu recomeço. Não te agradeço com medo que vás embora.

Toda pronta para a balada. Me arrancas uma espécie de rosnado.

Um ângulo de todos os graus separou por instantes o que juntavas andando. Foi suficiente para entrar voando.

Pele de pêssego, consistência de alabastro, roças a umidade no fio da minha garra.

Fazes parte de mim depois de tão longo tempo. Encaixe no colo é uma extensão de corpos.

Tão feminina e distante que tua volta é meu maior presente.

Você volta para matar a saudade que me mata de vontade.

Cheia é quando a Crescente capricha.

Jogas pesado, flor do cerrado. Ao te colher finges que desmaias.

Assim não vale, carangueja. Recuas em todos os beijos.

Amor quando se cala está consultando as cartas.

O mais doce do entardecer é que te entregas como nunca.

Sumo no ar quando me calo. Deixo a marca, o verso apaixonado

Amor é programa de índio. Cupido usa arco e flecha.

Precisava me ocupar de outras coisas, mas não permites, desperdício de formas.

Finges ser minha quando me afasto, para negar tudo quando retorno.

Visitei o quarto de badulaques. Lá estavas, jóia de marfim, lembrança de uma tarde, pegando poeira.

Pode espernear. Estás na armadilha. Só sai daqui perdida.

Fiquei de ressaca de tanto te dizer. Agora vou medir as palavras com teus dedos de seda.

 
RETORNO - Imagem desta edição: Marilyn Monroe.