Nei Duclós
Faz poemas, mas não mostra. Prefere
rasgá-los a descobrirem que chora.
Não me respondes. Preferes pintar
uma estrela de vidro na parede.
Naquele tempo, sobravas. Hoje, mais
escassa, descobres tardiamente o que havia por trás do meu olhar.
Poesia é cama. Não fique fazendo
sala
Custamos
a falar a mesma língua, intraduzível.
Pediu licença para ficar mais um
pouco. Consenti uma eternidade antes.
Passou meu poema a limpo, em papel
almaço pautado. Depois solfejou para os pássaros.
Quero que diga a verdade, ela disse,
quando abriu seu caderno de poemas. E não me engane, como no amor.
Poesia é cama. Não fique fazendo
sala.
Extraviou as malas, chegou só com a
roupa do corpo. Não por muito tempo.
Mandou um postal do aeroporto,
qualquer aeroporto. Estou só, dizia o acróstico formado pelas iniciais dos
destinos dos voos.
CONVERSAS
- Não sabia que me querias, ele disse.
- Está tão difícil assim ler mulher? ela perguntou.
- Cada vez sei menos sobre você, ele
disse.
- Isso vai piorar, disse ela.
- Isso vai piorar, disse ela.
- Não estou mais de castigo? ele
perguntou.
- Está, e sabe quando solto? ela respondeu.
- Está, e sabe quando solto? ela respondeu.
- Me conta uma história, disse o
poema.
- Era uma vez o amor, disse a musa.
- Era uma vez o amor, disse a musa.
RETORNO – Imagem desta edição: Judy Gardland.