Nei Duclós
O sentimento nos coloca todos no
mesmo rio. Quando eu bato o remo, tua água salpica em mim. Quando mergulhas,
sou tua correnteza.
Cansei de repetir. Agora encarreguei
o vento. Quando ele soprar em teu vestido, sou eu falando o de sempre.
Prefiro esquecer que te amo. Assim
me economizo quando enfim te decidires.
Quando enfim te conheci, era mais do
que a Lua descendo sobre o campo.
Trouxe teu beijo para bem perto. Foi
quando ele aconteceu, pássaro rasante.
Não imaginas o que plantas. Nem sei
como agir, excesso de sementes.
Não imagino não amar-te. É como não
amanhecer.
Não oponho resistência à tua
presença. Fico à mercê, como um catavento.
Beleza desperdiçada que não encontra
amor é quando o mundo perde os sentidos.
Perdi o medo de dizer que te quero.
Talvez haja coincidência.
Gostaria de inaugurar teu rosto, que
promete tanto.
Quando houver certeza de que nada
haverá no próximo passo e tudo continuará vazio, é hora de arrancar a trava do
verbo e soltá-lo no abismo.
Achas que é exagero, mas ponha-se no
meu lugar e olhe para você mesma e vê se não desmaias, suprema.
Caio deitado toda vez que te vejo,
beleza sem freios, pele suada de terremotos.
Se me quisesses, teríamos uma tarde
a nosso favor. Mas parece que vai haver reunião...
Tua beleza me surpreende na
madrugada. De onde vens, alada, que beijas, sem saber, a palavra?
Vieste tensa falando em seriedade.
Suportei até não poder. Então saí correndo em ritmo de sapateado, te levando
junto.
RETORNO – Imagem desta edição: Eva
Mendes.