Nei Duclós
Estive por acaso na sala seleta
onde a beldade planificava a defesa
dos animais em extermínio
e quando estranhou minha presença
perguntou quem eu era e sabendo
me obrigou a ler um poema intrincado
de eminente autor francês que exigia
esmerado sotaque
Mas como tive ginásio e me concentro
no desafio como um cachorro brabo
li devagar mergulhando em cada acento
e não sei se por compaixão ou desprezo
ela me aceitou na roda me dando encargos
Fui nomeado interventor de um sítio imenso
dos javalis de Madagascar, se não me falha
a história bizarra daquela tarde
Como não havia outros poetas
ela se aproximou da lábia
que imaginava em mim devido ao afinco
de me sair bem na tarefa humilhante
e acabamos sós atrás de cortinas
numa varanda diante da extrema luz
da cidade que conhecia pouco demais
onde estava na missão de não ser nada
Saímos para uma das avenidas famosas
e para os becos e bares manjados
exaustos do mito que sobre o teto e o piso
Mas o encanto da mulher ignorava o ambiente
ela estava grudado em algo perto da palavra
um verso que eu disse quase sem querer
e isso nos jogou na vertigem de hotel barato
e só conto isso porque amanheceu de fato
Acordamos num quadro impressionista
Monet, Manet, Renoir, não importa
ela tinha o rosto imóvel para mim, de joelhos
dobrados que desciam o vestido até a cintura
Não respirava mais, a defensora da natrureza
era um suspiro só depois da noite de esplendor
Éramos parte dos alaridos que nos cercavam
Foi assim que conquistei Paris, a cidade do amor
RETORNO – Imagem desta edição: Brigitte Bardot.