19 de novembro de 2012

POESIA, O PODER CONTRA IMPOSIÇÕES DA LINGUAGEM



 Nei Duclós

Poesia é criação de uma linguagem com poder, capaz de enfrentar as imposições corporativas, institucionais, religiosas, midiáticas etc.

Uma linguagem com poder é o poder autoral de trazer para primeiro plano a essência, a estrutura e as transformações das palavras.

As imposições de linguagem manipulam a vida social e pessoal. A poesia desmascara esse poder denunciando a natureza das imposições, que são apenas linguagem.

Ao desmascarar as imposições de linguagem por meio da criação literária que resgata a essência das palavras, a poesia torna-se poder.

A poesia usa a mesma arma das imposições da linguagem: a diversidade. Arte onívora, a poesia se expressa pelo número infinito de soluções da criação.

Poesia não pode ser um apêndice da indústria do espetáculo e dos governos, mas seu antídoto, a vacina contra a alienação que aprisiona.

Na sua missão libertária, a poesia supera até mitos libertários consagrados, que consolidam o que combatem, pois fazem parte do universo das imposições .

A poesia te liberta das imposições da linguagem que fabricam os grilhões sociais e econômicos. Mexe na fórmula, apreende a origem do fogo.

Por osmose ou clonagem, a poesia pode se impregnar das imposições da linguagem para virá-las contra elas mesmas.

Um poeta não busca a emoção nem emocionar, mas demolir o cadeado da linguagem que prende o espírito ao vazio.

Um poema não aborda temas. Por ser argamassa, tijolo e instrumentos, é matéria prima do artífice, o poeta e sua percepção, a leitura.

Quando atinge o esplendor da sua arte, o poeta dá por iniciada sua missão sobre a terra. Ela se desdobra até os confins do Tempo.


RETORNO -  Imagem desta edição: obra de Van Gogh.