Nei Duclós
Poesia é criação de uma linguagem com poder, capaz de
enfrentar as imposições corporativas, institucionais, religiosas, midiáticas
etc.
Uma linguagem com poder é o poder autoral de trazer para
primeiro plano a essência, a estrutura e as transformações das palavras.
As imposições de linguagem manipulam a vida social e
pessoal. A poesia desmascara esse poder denunciando a natureza das imposições,
que são apenas linguagem.
Ao desmascarar as imposições de linguagem por meio da
criação literária que resgata a essência das palavras, a poesia torna-se poder.
A poesia usa a mesma arma das imposições da linguagem: a
diversidade. Arte onívora, a poesia se expressa pelo número infinito de
soluções da criação.
Poesia não pode ser um apêndice da indústria do espetáculo e
dos governos, mas seu antídoto, a vacina contra a alienação que aprisiona.
Na sua missão libertária, a poesia supera até mitos
libertários consagrados, que consolidam o que combatem, pois fazem parte do universo
das imposições .
A poesia te liberta das imposições da linguagem que fabricam
os grilhões sociais e econômicos. Mexe na fórmula, apreende a origem do fogo.
Por osmose ou clonagem, a poesia pode se impregnar das
imposições da linguagem para virá-las contra elas mesmas.
Um poeta não busca a emoção nem emocionar, mas demolir o
cadeado da linguagem que prende o espírito ao vazio.
Um poema não aborda temas. Por ser argamassa, tijolo e instrumentos,
é matéria prima do artífice, o poeta e sua percepção, a leitura.
Quando atinge o esplendor da sua arte, o poeta dá por
iniciada sua missão sobre a terra. Ela se desdobra até os confins do Tempo.
RETORNO - Imagem
desta edição: obra de Van Gogh.