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10 de novembro de 2012
TAILOR DINIZ ANALISA 'PARTIMOS DE MANHÃ' DE NEI DUCLÓS
"Por razões profissionais, quis o destino que eu estivesse na companhia de Nei Duclós quando a ele foi entregue o primeiro exemplar de Partimos de Manhã. Pelas mesmas razões, quis também o destino que eu fosse convidado para escrever aqui um texto sobre Partimos de Manhã. E quis, por fim, o destino que o Nei, naquele momento tão particular, estivesse na companhia de um sujeito que conhece na prática todas as emoções que precedem (em especial de ansiedade) e arrebatam o escritor no momento em que ele é confrontado com o próprio livro pela primeira vez.
Nei pegou-o, acariciou a capa, a contra capa, a lombada, voltou à capa e encheu os olhos de lágrimas. E ficou em silêncio. Por um longo tempo ficou em silêncio, aquele silêncio cujas razões muitas vezes tentamos transcrever numa página e não conseguimos. Depois disse, e talvez nem se lembre ele hoje do que disse, mas disse e repetiu várias vezes: "Caramba! Como ele está lindo! Como ele está lindo!" E voltou a apalpá-lo.
Falar de Nei Duclós sem citar Outubro é quase uma subversão. Mas ter a chance de escrever sobre Partimos de Manhã e se ocupar de uma outra obra, mesmo que seja Outubro, seria quase uma insensatez. Então, deixo Outubro como dica de leitura para esta Feira. A edição em papel está esgotada, mas na internet, no blog do autor, é possível encontra-lo.
Nei Duclós é um homem apaixonado pela vida em todas as suas nuanças, em particular pela palavra, seja qual for a forma em que ela se apresente, na prosa, na poesia, no texto de opinião. Mas quando a ferramenta é a palavra, não basta a paixão. É preciso saber usá-la. E nisso o Nei é um mestre. Conhece a alma de cada uma, e é com a virtude de conhecê-las que as usa, tanto na hora de se declarar indignado com alguma injustiça, como para descrever sua emoção diante de uma paisagem. Nei não usa a palavra como arma, como levianamente se poderia imaginar. Usa-a como companheira de intimidades, em movimentos tanto de memória como de alumbramento com o presente, para exaltar o sol iluminando o seu quintal, ou para se ressentir de algo oculto por uma noite de tempestade, tendo como meios para tal apenas a prerrogativa da imaginação.
É esse o Nei Duclós que o leitor vai encontrar em Partimos de Manhã: um poeta que jamais cometerá um ato de traição à palavra - e que ainda se emociona ao ser apresentado ao seu próprio livro. Isso, convenhamos, é para poucos."
RETORNO - Reproduzo acima texto de Tailor Diniz publicado na Zero Hora de 31/10/2012.