Páginas

8 de novembro de 2012

CORRENTEZA



Nei Duclós
 

O sentimento nos coloca todos no mesmo rio. Quando eu bato o remo, tua água salpica em mim. Quando mergulhas, sou tua correnteza.

Cansei de repetir. Agora encarreguei o vento. Quando ele soprar em teu vestido, sou eu falando o de sempre.

Prefiro esquecer que te amo. Assim me economizo quando enfim te decidires.

Quando enfim te conheci, era mais do que a Lua descendo sobre o campo.

Trouxe teu beijo para bem perto. Foi quando ele aconteceu, pássaro rasante.

Não imaginas o que plantas. Nem sei como agir, excesso de sementes.

Não imagino não amar-te. É como não amanhecer.

Não oponho resistência à tua presença. Fico à mercê, como um catavento.

Beleza desperdiçada que não encontra amor é quando o mundo perde os sentidos.

Perdi o medo de dizer que te quero. Talvez haja coincidência.

Gostaria de inaugurar teu rosto, que promete tanto.

Quando houver certeza de que nada haverá no próximo passo e tudo continuará vazio, é hora de arrancar a trava do verbo e soltá-lo no abismo.

Achas que é exagero, mas ponha-se no meu lugar e olhe para você mesma e vê se não desmaias, suprema.

Caio deitado toda vez que te vejo, beleza sem freios, pele suada de terremotos.

Se me quisesses, teríamos uma tarde a nosso favor. Mas parece que vai haver reunião...

Tua beleza me surpreende na madrugada. De onde vens, alada, que beijas, sem saber, a palavra?

Vieste tensa falando em seriedade. Suportei até não poder. Então saí correndo em ritmo de sapateado, te levando junto.


RETORNO – Imagem desta edição: Eva Mendes.