7 de agosto de 2008

ROLOS OLÍMPICOS


Deve ter uma lógica que desconheço, mas quando vi Marta empatar com as alemãs antes da abertura dos jogos, fiquei invocado. Achei que as competições começariam depois da cerimônia dessa sexta-feira. Por isso também estranhei quando liguei a televisão cedo e descobri o Brasil enfrentando a Bélgica ao raiar da aurora. Hernanes fez um gol magnífico, driblando dentro da área e colocando quase no ângulo. Mas para a Globo, o Brasil apenas “cumpriu com a obrigação”, “fez o dever de casa”, como se os atletas fossem os servos do Galvão Bueno e estivessem lá para se comportar direitinho e não estragar os negócios.

Obrigação coisa nenhuma. O Brasil não é obrigado a vencer de Botswana ou Tovalu. O Brasil joga e pronto. Vence porque é bom de bola e às vezes perde para confirmar os puxões de orelha que a crônica esportiva gosta de dar, bem instalada na sua olímpica certeza sobre tudo. A equipe global achou a seleção uma droga, que não é ainda um time, apenas um conjunto de individualidades. Aliás, o gol de Hernanes seria apenas fruto da sua qualidade como jogador e não graças ao time montado pelo Dunga. Quer dizer, mal começa a competição e já começam a fritar o treinador.

É que a pensata, a produção de pensamento, é exclusiva dos comentaristas, não dos estrategistas em campo. O filé da civilização é reservado para os deuses dos estádios, ou seja, os jornalistas e os representantes corporativos (como o comentarista de árbitro, que árbitro é) que fazem a cobertura. Em vez de trabalharem, ou seja, fazerem matérias sobre os atletas dos outros países, não apenas os do Brasil, ficam se fresqueando sobre detalhes sem importância. Quantas vezes vamos ver o que os caras comem, como ficam com as bolas esparramadas nas poltronas?

Agora, quando começa a chover medalha, não sabemos quem são as pessoas que atingem o pódio. A televisão brasileira não informa nada sobre Estados Unidos, Canadá, Rússia, China. Você sabe que uma das moças da peteca de praia, o tal vôlei de areia, fez “o seu melhor” e está fora da olimpíada. Ok, é um fato. Mas entra a substituta emocionada com o corte. Legal, é importante. Aí aparece não sei quem chorando e todos se abraçam e que sei eu. Tem uns 200 jornalistas da Globo lá, mas ninguém que diga, ei este aqui é o cara que poderá ganhar os cem metros rasos. Não, o que temos é a sujeita que foi eliminada pelo doping em mil novecentos e nada e lá aparece pela milionésima vez a mesma imagem da dopada vencendo.

Lá quero eu ficar vendo sempre a mesma coisa? Não se produz imagem que valha a pena. Entrevistem delegações estrangeiras, e parem de esfregar o chão da vila olímpica. Aliás, ficamos sabendo que vila olímpica é invenção dos alemães em Berlim em 1936, era de ouro do nazismo. A Globo adorou, mas o repórter no ar pediu desculpas pela informação. Não é politicamente correto, entende? Os alemães são extraordinários, os nazistas não podem pegar todo o crédito do que a Alemanha produz, sob qualquer governo.

O Grande Banana chega para prestigiar a cerimônia de abertura e no encontro com o presidente chinês chama na chincha o aliado preferencial e lhe dá dois abraços bem apertados, provocando gargalhadas. Depois fala com uma euforia nunca vista. Por que adoram tanto a China, que acabou com a indústria nacional? Talvez seja a vingança do ex-torneiro mecânico que odiava seus patrões e resolveu ajudar a sucatear essa grande obra da era Vargas que é o parque industrial brasileiro.

Como o Brasil venceu a Bélgica no futebol, o Galvão Bueno deu uma colher de chá e pegou uma carona na vitória. Diz que gostou, mas com ressalvas. Ora vai procurar tua turma. Até quando vamos aturar esse monopolista no vídeo?

RETORNO - 1. Imagem de hoje: o treinador Dunga, que, como jogador, foi campeão do mundo em 1994. 2. Não sei se vocês notaram, mas ficou claro para mim a enorme tristeza do povo chinês. Os caras estão nas arquibancadas sérios, contraídos, graves. Deve ser dose viver sob uma ditadura milenar.

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