A Globo colocou os apresentadores e repórteres a imitar os internautas, fingindo que estão interagindo com as imagens e notícias, por meio de toques que lembram um pouco a navegação na internet. É uma coisa falsa. Primeiro, porque tudo o que vai ao ar é planejado, portanto não existe a natureza on-line da ação. Segundo, porque não é você, caro espectador, que manipula os sinais e faz as coisas se movimentaram, na tela, são eles. Ou seja, eles tomaram o teu lugar e acham que estão inovando. Isso é um tipo de convivência de narrativas paralelas – a da internet e a da TV – que dá com os burros na água. Mas existem outros, que são interessantes.
Por exemplo: o programa “Faça sua história”, que os escritores Geraldo Carneiro e João Ubaldo Ribeiro criaram e vai ao ar sempre depois do Fantástico. São três narrativas paralelas. Uma, a do motorista de taxi contando a história para o passageiro. Outra, a ação narrada, que se desdobra em ambientes fora do táxi e envolve vários personagens. E a terceira, a imaginação do narrador, que acaba sendo o escape de uma vida conduzida pela necessidade, apertada pelo trânsito e com hora marcada para voltar para casa, onde uma esposa ciumenta o aguarda.
A imaginação é sempre sobre traições amorosas que caem no vazio, pois as vertentes narrativas jamais se encontram. A corrida de taxi é limitada em si mesma, tem a entrada do passageiro, o interesse pela história e o fim, quando o motorista volta a ficar só. A ação narrada segue o ritmo da comédia urbana, que tem um pé nos filmes da Atlântida e outro nos especiais cômicos de comportamento da própria emissora. Mas é também reduzida a um círculo vicioso, pois é quando o motorista se vê às voltas com sua condição precária de homem de poucos recursos, amarrado pelo casamento com filhos e que acaba não aproveitando as oportunidades de fuga que se apresentam.
A parte imaginada jamais se consuma de verdade, não há uma ligação entre o sonhos e o desenrolar da história. É a maneira de manter a verossimilhança e o interesse, pois o espectador acaba querendo saber como o motorista vai escapar do embrulho na dita vida real. Quando escapa, é sempre para reforçar os laços do casamento. A tradição é seduzida pela transgressão, mas jamais cede. Os motivos têm pitadas de sonho: o fogo do casamento jamais diminui, o amor compensa qualquer sacrifício e a gostosa que tenta o motorista não passa de uma armadilha, que se revela no final.
As narrativas não se cruzam, convivem uma apartada da outra, como no caso da internet fake dos apresentadores e repórteres. Existe a tabula rasa, ou seja, todas no fundo não passam de representação, ficção,desde o noticiário até o especial dos domingos. Mas isso não pode ficar claro nem ser denunciado. É preciso amarrar bem as histórias, as reportagens, as entrevistas, os casos, as brigas, para que tudo pareça como na vida real que ninguém tem: um pouco de aventura, de possibilidades, de distração.
Há perversidade no processo, mas isso não pode ser atribuído a um plano ambicioso de manter todo mundo na linha. Acho que os criadores dessas coisas acreditam no que fazem e têm uma visão diferente da que foi apresentada aqui. Não importa. O que vale é pensar alto, para que haja um pouco de sabor no fato de ver TV neste país de multidões confinadas em suas celas.
Por exemplo: o programa “Faça sua história”, que os escritores Geraldo Carneiro e João Ubaldo Ribeiro criaram e vai ao ar sempre depois do Fantástico. São três narrativas paralelas. Uma, a do motorista de taxi contando a história para o passageiro. Outra, a ação narrada, que se desdobra em ambientes fora do táxi e envolve vários personagens. E a terceira, a imaginação do narrador, que acaba sendo o escape de uma vida conduzida pela necessidade, apertada pelo trânsito e com hora marcada para voltar para casa, onde uma esposa ciumenta o aguarda.
A imaginação é sempre sobre traições amorosas que caem no vazio, pois as vertentes narrativas jamais se encontram. A corrida de taxi é limitada em si mesma, tem a entrada do passageiro, o interesse pela história e o fim, quando o motorista volta a ficar só. A ação narrada segue o ritmo da comédia urbana, que tem um pé nos filmes da Atlântida e outro nos especiais cômicos de comportamento da própria emissora. Mas é também reduzida a um círculo vicioso, pois é quando o motorista se vê às voltas com sua condição precária de homem de poucos recursos, amarrado pelo casamento com filhos e que acaba não aproveitando as oportunidades de fuga que se apresentam.
A parte imaginada jamais se consuma de verdade, não há uma ligação entre o sonhos e o desenrolar da história. É a maneira de manter a verossimilhança e o interesse, pois o espectador acaba querendo saber como o motorista vai escapar do embrulho na dita vida real. Quando escapa, é sempre para reforçar os laços do casamento. A tradição é seduzida pela transgressão, mas jamais cede. Os motivos têm pitadas de sonho: o fogo do casamento jamais diminui, o amor compensa qualquer sacrifício e a gostosa que tenta o motorista não passa de uma armadilha, que se revela no final.
As narrativas não se cruzam, convivem uma apartada da outra, como no caso da internet fake dos apresentadores e repórteres. Existe a tabula rasa, ou seja, todas no fundo não passam de representação, ficção,desde o noticiário até o especial dos domingos. Mas isso não pode ficar claro nem ser denunciado. É preciso amarrar bem as histórias, as reportagens, as entrevistas, os casos, as brigas, para que tudo pareça como na vida real que ninguém tem: um pouco de aventura, de possibilidades, de distração.
Há perversidade no processo, mas isso não pode ser atribuído a um plano ambicioso de manter todo mundo na linha. Acho que os criadores dessas coisas acreditam no que fazem e têm uma visão diferente da que foi apresentada aqui. Não importa. O que vale é pensar alto, para que haja um pouco de sabor no fato de ver TV neste país de multidões confinadas em suas celas.
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