18 de agosto de 2008

A RESISTÊNCIA DOS GIRASSÓIS


Logo no início da partida, quando a Alemanha estava ganhando de um a zero das nossas jogadoras da seleção, os comentaristas da Globo (a única emissora que pega direito por aqui, em TV aberta, sem antena externa) elogiavam a “atitude” das germânicas, que estava se comportando à altura da decisão. Não eram como essas brasileiras que estavam perdendo e, pelo andar da carruagem, deveriam somar mais uma frustração à cesta de derrotas nacionais. No final do jogo, quando dávamos de quatro a um na atitude branquela, Galvão Bueno insistia em tirar a Marta porque senão ela pegaria um cartão amarelo e ficaria fora da final. O técnico manteve a Marta, que não ganhou nenhum amarelo.

E na vela? É Scheidt, Scheidt, Scheit. Pois deu Fernanda e sua companheira de equipe, que ganharam bronze. Ninguém tinha falado nelas. Não vi uma só reportagem. Desconfio que os orgasmos anais dos comentaristas diante das concorrentes estrangeiras na ginástica olímpica tenha sido o motivo de tanto mau agouro. Caímos de todas as formas, mas dá para entender. Essa cobertura, que orienta a percepção da massa pra quem seria infinitamente melhor, faz com que o peso do Mal recaia sobre nossos atletas. Não estou justificando nada. Apenas reportando o que vejo e tirando minhas conclusões. “Nossa, a atleta americana não derrubou um fio de cabelo na hora de saltar, que coisa”. Ora, vão tomar no cu.

Essa postura faz sentido. Num país sugado de sua soberania, os oportunistas ficam querendo colher ouro quando não plantam nada. No fundo admiram as outras “raças” e desprezam os brasileiros. Num dado momento, a comentarista elogiou o gol da Pretinha. Depois se corrigiu, tinha sido da Formiga. É que ambas se parecem, entendem? Vistas de longe, são todas iguais, é o que eles pensam. Lembram o verso da Tropicália, de autoria de Caetano Veloso, “os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis”. As camisas amarelas são os girassóis que carregam o peso do mau olhado dos falsos patriotas, que sobrevoam os jogos com suas garras milionárias.

É possível que tenhamos ouro no futebol feminino. Mas os inimigos têm uma arma secreta: Pedro Bial. Ontem, domingo, quando o grande agourento ficou brincando de Big Brother com Marta e Cia., temi pelo pior. Lembrei quando ele se envolveu naquele caso de intriga entre Ronaldo Fenômeno e sua namorada, evento que teria influído no resultado do final da Copa de 1998 na França. Ou quando chafurdou de quatro na lama ao babar no ovo de Zidane Zizou em 2006, pisoteando na seleção, que perdeu de apenas um a zero, acusando nossos jogadores de omissos, relapsos, preguiçosos, brasileiros enfim. Quando tudo parece dar certo, o animador de pessoas malhadas, confinadas e saradas, que fazem todas as baixarias para disputar um milhão de reais, vem para fazer estrago.

Precisamos que saiam de cima dos rapazes e das gurias. Como explicar o sumiço da vara da Fabiana Murer no salto? Zica, claro. Pode ter sido boicote, o escambau. Mas fundamentalmente é zica, mau olhado. Vi a apresentadora melosa entrevistando a moça dias antes de saltar. De mulhééérrr para mulhééérrr, entende? Aquelas entrevistas nada a ver que perguntam a cor favorita de unha. Para mim, estava zicando. Chamaram a guria de tudo, até de musa. Funciona.

Xô, urubu.

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