Nei Duclós
Não me poupe de ti, pomba de outras
paragens. Pouse na praia da palavra
Agora me diga: o que é mais importante: o dia que se fina em
notícias de alarmes ou teus lábios trêmulos no definem o início de um novo
tempo?
Ficas séria quando estás amante. É porque sabes que eu
morro, mulher sem controle.
Bebo da fonte em tuas mãos de seda. Sorvo o sonho que
escorre por tua perna.
Me dê a mão, como se fazia antigamente. Chutamos pedrinhas
preciosas de canções brilhantes.
O beijo está ativo em todos os recantos. Te arrepio bem
sabes aonde, mas nada demonstras, esfinge de doce mármore.
Meu poema reza no crepúsculo.
Sol, desço em teu horizonte.
Manipulas luz entre os arbustos.
Moro no coração que me dedicas. O que sofre por mim, à
parte. Espécie de lua radiante.
Escrevo na areia. Riscas com o pé para fazer pirraça. Sou
teu soneto, me dizes, cheia de graça.
Bato palmas e tu, pássara, se transforma em poeira. Grãos
azuis no íntimo da princesa.
A tarde plana sem o motor da tua presença. És a
possibilidade de avanço no plano de voo desenhado no teu corpo.
Basta um sopro para acender tua felicidade. É porque
nasceste nesse limiar da vida plena de vontade.
Aguardas, soberana, que eu me desperdice. Depois me acolhe,
aos pedaços, em suas asas de espuma.
Empurro o desamor montanha acima e antes de chegar no topo
desisto. É quando meu coração rola de volta para ti, perdição de gruta.
Desmanchamos na doçura que me trazes com teu cheiro de chuva
em mato fechado.
A solidão tem contornos conhecidos. Dois juntos são o
planeta distante fora do mapa.
Olhos privilegiados selecionam a paisagem perfeita.
A terra imagina a água, irmã do céu. Horizonte é o vórtice
do outono claro.
Desmancho teu cabelo tão caprichado que arrumaste na
cachoeira. Sereia de água doce, bateia de ouro fino, volteio.
Um toque de leve e desencadeia-se a avalanche. Fechas os
olhos quando fantasiamos.