Nei Duclós
O amor pede para nascer. Em teu seio
de seda ele se aninha. Alimentamos o rebento faminto para que brote em voo de
flor verdadeira.
Fechamos os olhos para adivinhar o
próximo passo diante do abismo. É apenas o momento supremo do salto que nos faz
humanos.
Nossos rostos conversam sem
palavras. Há um crepitar de segredos que jamais se revela. Melhor assim, vela
que ilumina o mar calmo da noite poderosa.
Dividimos o medo. Eu de te perder,
tu de eu ser o mesmo.
Toda noite eu remo. Vou de barco até
os confins do vento. Lá te encontro perdida de desejo.
Fomos longe demais. Agora só no
final da linha tem volta.
Fingi que queria apenas dois passos
de dança. Foi ceder para eu te jogar fora da pista
Abra o bilhete só depois de ter
certeza. Consulte os astros do teu céu noturno
Quero você, mas não conte para você
mesma. Fica entre nós, criaturas sem nome.
Ser poesia já nos bastava. Mas
quisemos mais, esse estrago a dois que nos incomoda além do limite da palavra.
Não me negue o que já me pertence: a
noite alta da tua Lua nova.
Lua Nova: Cortei a unha bem fininha.
Grudei no céu noturno.
Alta poesia é quando a palavra toma
todas.
Teclado come letras na hora do
poema. É uma espécie de imposto na receita geral da tua leitura.
Não é sério adiar o mico obrigatório
de te dizer tudo. Comédia sinistra é ficar mudo. Melhor causar do que ficar
retido na aduana da falta que me faz o teu sorriso.
Blusa, busto, blush, musa: procuro
sons na palavras atiradas em me rosto no dia escancarado por tua poesia.
De vez em quando passo pela tua
janela, num desfile solo, imaginário, de chapéu de palha, sambando sem música,
só para ver se te convenço de que faço parte de um recital que só se ouve nas
estrelas.
Chove em ti, beleza em resguardo. À
espera de mim, bom tempo que tarda.
Tufo de arbustos altos incendeia de
verde a paisagem cinza da manhã nublada. Sacode com o vento soprado pela noite
morta.
Escutas o amor que verte das nuvens
do meu olhar.
Levo para cama uma porção de sonho,
que me deste de presente ao expulsar meu abandono.
É difícil, coração, o convívio com o
mistério dos sentimentos em conflito. Confio na paixão e na dança que se
imortaliza em cada gesto exercido pela felicidade.
Somos um só, doçura. Uma alegria que
não se fina.
Uma princesa me visita. Abro todas
as portas do coração.
Sempre que passas em pleno voo meu
coração flutua.
Não vi você chegando. Tinha
desistido do nosso banco no jardim suspenso. Mas me jogaste um sussurro quando
eu ia embora
Descobriste o segredo. O poema se
entrega quando negas o beijo.
Estás ocupada apagando as pistas do
relacionamento. Não esqueça de jogar fora a caixa onde guardas meu retrato. Fiz
o mesmo com a tatuagem do teu rosto no meu peito. Só que fui junto, princesa.
Não temos futuro. Por isso preferes a solidão que um dia
derrubamos.