1 de abril de 2013

SÃO TUAS MÃOS



Nei Duclós

Não são as palavras que pegam. São tuas mãos.

Amor é ter com quem conversar.

Pegaste chuva à minha revelia. Te acolhi com a toalha do meu espanto.

Há décadas falo que não te quero. Só que fiques. Algum problema?

É tão fora de moda ficar junto por muitas luas. Amor que não depende de fases, nem de poesia.

Amor de mentira tira pedaço como se fosse verdade. Amor de fato parece mentira até que cai a ficha.

Nosso amor é um túnel de primavera. As flores caem no teu cabelo.

Vou para não voltar, ele disse. Vou junto, ela falou.

Acho que não nos entendemos, ele disse.  Sabemos disso desde o século 20, disse ela.

Casamento é um mistério. Substitui a certidão de nascimento.

Acabou, falei. Já vai começar... disse ela.

Resolvi fazer uma longa viagem. No dia seguinte estava de volta, perguntando pelo café.

Não consigo ir embora de ti. Toda vez que faço as malas pergunto se estás pronta para ir junto.

Uma parte de mim viajou. Ficou na tua ausência o hábito de não fazer barulho quando estás dormindo. E o banco do aeroporto, tonto de tanto te esperar de volta

Compromisso é a alegria que dura, não a que alimenta o riso.

Guardo o amor para melhores dias. Os que sonhamos quando estávamos unidos.

 Você não dorme? ela perguntou, no meio da noite, ainda desmaiada em seus braços. Tenho medo de acordar, disse ele.


RETORNO – Imagem desta edição:  Meisa Kuroki.