26 de abril de 2013

O MAR SOB O MEU COMANDO



Nei Duclós

Minha vida não foi lá grande coisa. Por isso é natural a atual falta de importância. Vale apenas o sonho, o mar sob o meu comando.

E o que o sr. ganhou com tudo isso? Experiência, sabedoria? perguntaram para o velho.  Ganhei o direito de ser importunado por pesquisadores, disse ele.

Do gelo fizeste um ninho e quis que eu me deitasse. Voei, passarinha.

Podei a flor ela voltou no mesmo lugar. Jardim é quando ela brota, não quando eu corto.

Prometo ser diferente. Vou cortar o cabelo, arranjar um emprego. Depois te convidar para um cinema, na sessão das oito. Lá pelos anos 50.

Me perdi depois daquele beijo. Ainda procuro a saída nos bastidores da sessão de teatro onde nos pegamos.

Ficas onde te invento. Mas não és tu, e sim meu sonho. Escapas sendo o que não alcanço.

Nada te ofereço, criatura do desejo. Apenas o olhar comprido dos meus desajeitos

Há um limite que não transgrido. Quando dizes não sorrindo.

Saberemos tremer quando chegar a hora? Ou deixaremos passar, como sempre?

Tua vontade deixou pistas. Sigo de olhos fechados, de tão intensas.

Me perdi entre cobertas. Estavas em algum lugar, na certa. Descobri quando um suspiro teu me deixou alerta.

Melhor falar sem meio termo. Servir a água fervendo. Sem queimar, apenas sendo.

A noite enrolou-nos de abismo. A claridade nos despertou no fundo.

Devo explicações. Pago em poesia.

Foi uma surpresa. Eu tinha esperança, mas não esperava.

Viver é essa perda maravilhosa de tempo.

Fazer criaturas e nuvens com essas pedras incandescentes soltas no espaço e girando como loucas? perguntou o Anjo. Sim, disse o Senhor. Luzes conscientes e imortais embaladas em matérias datadas olhando para um céu claro de outono.

Vamos transcender. Chega de contexto.

O verso é o que dizes no teu lado avesso.

Preciso do amor, providencie a encomenda. Pago quando chegar, deposito em fantasia.

Podei a flor ela voltou no mesmo lugar. Jardim é quando ela brota, não quando eu corto.

 Qual seu último desejo? falou o carrasco. Boa pergunta, disse o condenado.

Tinha excesso de versos, fez uma lipoinspiração.

Teci palavras com teu rosto. Quando sorris, desfiam-se todas.

Quando voltares da balada, te prepara. Não pense que dormirá de cara.