Nei Duclós
Minha vida não foi lá grande coisa.
Por isso é natural a atual falta de importância. Vale apenas o sonho, o mar sob
o meu comando.
E o que o sr. ganhou com tudo isso?
Experiência, sabedoria? perguntaram para o velho. Ganhei o direito de ser importunado por
pesquisadores, disse ele.
Do gelo fizeste um ninho e quis que
eu me deitasse. Voei, passarinha.
Podei a flor ela voltou no mesmo
lugar. Jardim é quando ela brota, não quando eu corto.
Prometo ser diferente. Vou cortar o
cabelo, arranjar um emprego. Depois te convidar para um cinema, na sessão das
oito. Lá pelos anos 50.
Me perdi depois daquele beijo. Ainda
procuro a saída nos bastidores da sessão de teatro onde nos pegamos.
Ficas onde te invento. Mas não és
tu, e sim meu sonho. Escapas sendo o que não alcanço.
Nada te ofereço, criatura do desejo.
Apenas o olhar comprido dos meus desajeitos
Há um limite que não transgrido.
Quando dizes não sorrindo.
Saberemos tremer quando chegar a
hora? Ou deixaremos passar, como sempre?
Tua vontade deixou pistas. Sigo de
olhos fechados, de tão intensas.
Me perdi entre cobertas. Estavas em
algum lugar, na certa. Descobri quando um suspiro teu me deixou alerta.
Melhor falar sem meio termo. Servir
a água fervendo. Sem queimar, apenas sendo.
A noite enrolou-nos de abismo. A
claridade nos despertou no fundo.
Devo explicações. Pago em poesia.
Foi uma surpresa. Eu tinha
esperança, mas não esperava.
Viver é essa perda maravilhosa de
tempo.
Fazer criaturas e nuvens com essas
pedras incandescentes soltas no espaço e girando como loucas? perguntou o Anjo.
Sim, disse o Senhor. Luzes conscientes e imortais embaladas em matérias datadas
olhando para um céu claro de outono.
Vamos transcender. Chega de contexto.
O verso é o que dizes no teu lado
avesso.
Preciso do amor, providencie a
encomenda. Pago quando chegar, deposito em fantasia.
Podei a flor ela voltou no mesmo
lugar. Jardim é quando ela brota, não quando eu corto.
Qual seu último desejo? falou o carrasco. Boa
pergunta, disse o condenado.
Tinha excesso de versos, fez uma
lipoinspiração.
Teci palavras com teu rosto. Quando
sorris, desfiam-se todas.
Quando
voltares da balada, te prepara. Não pense que dormirá de cara.